Página:Dom Casmurro.djvu/318

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musica para pedir-me que desmentisse o texto dando-lhe algum dinheiro.

Fazia de medico, de militar, de actor e bailarino. Nunca lhe dei oratorios; mas cavallos de pau e espada á cinta eram com elle. Já não falo dos batalhões que passavam na rua, e que elle corria a ver; todas as creanças o fazem. O que nem todas fazem é ter os olhos que esta tinha. Em nenhuma vi as andas de gosto com que assistia á passagem da tropa e ouvia tocar a marcha dos tambores.

— Olha, papae! olha !

— Estou vendo, meu filho!

— Olha o commandante! Olha o cavallo do commandante ! Olha os soldados!

Um dia amanheceu tocando corneta com a mão ; dei-lhe uma cornetinba de metal. Comprei-lhe soldadinhos de chumbo, gravuras de batalhas que elle mirava por muito tempo, querendo que lhe explicasse uma peça de artilharia, um soldado caído, outro de espada alçada, e todos os seus amores iam para o de espada alçada. Um dia (ingenua edade!) perguntou-me impaciente :

— Mas, papae, porque é que elle não deixa cair a espada de uma vez?

— Meu filho, é porque é pintado.

— Mas então porque é que elle se pintou?

Ri-me do engano e expliquei-lhe que não era o soldado que se tinha pintado no papel, mas o gravador, e tive de explicar tambem o que era gravador e o que era gravura : as curiosidades de Capitú, em summa.