Página:Jornal das Famílias 1877 n06.pdf/22

Wikisource, a biblioteca livre

— Há aqui alguma coisa, murmurou o advogado.

Silvestre corou até a raiz dos cabelos.

— Que tem pintado você?

— Quase nada.

— Alguma coisa, ao menos.

— Mas tão pouco!

— Há de deixar-me ver.

— Não posso; são esboços sem valor. Quando eu fizer uma grande obra, sim.

— Olé! Já pensa nisso?

— Não penso em outra coisa.

— Mas, menino, ninguém chega a uma grande obra sem passar por obras pequenas. Engatinha-se antes de andar. Eu quisera vê-lo engatinhar.

Silvestre não disse palavra.

— Tem o pudor do incompleto! pensou o advogado. Sabe que seu pai trouxe-o para cá, continuou ele em voz alta, para que trabalhe e se deixe de pinturas. Eu, porém, permito-lhe que pinte.

Silvestre quase desmaiou. Agarrou-se às mãos do advogado, como a pedir-lhe que repetisse o que acabava de dizer. Riu-se o advogado da alegria do pequeno, e, não só lhe disse que podia pintar em suas horas vagas, mas até que, se visse algum trabalho sério, de onde pudesse concluir que havia nele talento, lhe arranjaria um professor. A alma de Silvestre respirou largamente, livre do infortúnio que a oprimia; achava um protetor, onde cuidava ir buscar um algoz. Podia enfim ser artista!


(Continuar-se-ha.)
VICTOR DE PAULA.