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soldados, de modo que sobre cinco mil homens que tinha Garibaldi, quatro mil e duzentos passaram para a Suissa, ficando apenas com oitocentos.

Garibaldi como se tivesse ainda os seus cinco mil homens, com o seu sangue frio habitual, collocou-se em Camerlata, ponto de juncção de diversas estradas, diante de Como. Ahi estabeleceu uma bateria com as duas peças de artilheria, e expediu correios a Manara, Griffini, e a Durando e Apice, e aos chefes dos corpos de voluntarios da alta Lombardia, convidando-os a concordarem entre si, o tomarem posições fortes, e sustentaveis até á ultima, apoiados na fronteira suissa.

O convite não teve resultado.

Então Garibaldi retirou de Camerlata para San Fermo, onde em 1859, batemos completamente os austriacos. Porém antes de nos collocarmos na Praça de São Fermo, reuniu-nos e fez-nos uma falla. — Os discursos de Garibaldi, vivos e pittorescos, tem a verdadeira eloquencia do soldado. Disse-nos que era preciso continuar a guerra em guerrilha, que esta guerra era a mais segura e a menos perigosa, que bastava confiar no chefe, e ajudarem-se os camaradas.

Apesar d’esta energica allocução houveram novas deserções durante a noute, e de madrugada a nossa gente achava-se reduzida a quatrocentos ou quinhentos homens.

Garibaldi, com grande desgosto, decidiu-se a entrar no Piemonte, porém na occasião em que atravessava a fronteira, envergonhou-se de retirar sem combate, demora-se em Castelletto sobre o Tecinio, ordena-me que percorra os arredores e que lhe traga o maior numero de desertores possivel. Fui até Lugano e trouxe trezentos homens, contamos-nos, eramos setecentos e cincoenta. Garibaldi acha-se em força sufficiente para marchar contra os austriacos.

No dia 12 d’agosto, fez a sua famosa proclamação, na qual declara que Carlos Alberto é um traidor, que os italianos, nem se podem nem se devem