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rosto açoutado pela neve. Vindo o dia, marchámos sem parar durante o seu curso; era preciso atravessar o cimo cuberto de neve do Jorio; o inverno tinha tornado impraticaveis as passagens; entretanto atravessamol-o com neve quasi sempre até ao joelho, muitas vezes até aos sovacos dos braços.

Depois de trabalhos infinitos, chegámos, emfim, ao cume; mas ali um inimigo mais terrivel do que todos os que tinhamos vencido até então nos esperava: a tormenta.

N’um instante ficámos completamente cegos, e não distinguiamos nada a dez passos de distancia.

Disse então aos meus bravos de se apertarem uns contra os outros, marchar n’uma só fila e seguir-me avançando com a maior rapidez. Tres ficaram para traz, cahindo para não mais se levantarem, escondidos em a neve, dormindo ou velando talvez no cume do Jorio.

Marchei primeiro, sem seguir nenhuma estrada real, sem saber onde ia, fiando em a nossa boa fortuna, quando repentinamente parei; o rochedo me faltava debaixo dos pés; um passo mais e cabia no precipicio!

Fiz alto, ordenando que cada um ficasse no logar em que estava até nascer o dia.

Então só com um guia procurei um caminho toda a noite; a cada instante a terra, ou antes a neve faltava debaixo de nós, ou os pés nos escorregavam. Era por milagre que um de nós não ficava escondido, ou morto na queda.

Emfim ao raiar do dia, chegámos perto de algumas cabanas abandonadas. Entretanto como offereciam um abrigo, quiz voltar para os meus homens.

Mas então as forças abandonaram-me, e cahi quebrado de fadiga e transido de frio.

O meu guia levou-me para uma das cabanas, e conseguiu accender fogo e fez-me tornar a mim.

Durante este tempo a felicidade quiz que os meus soldados seguissem o mesmo caminho que