Página:O Bandido do Rio das Mortes.pdf/25

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-bandeireiros que percorrem os sertões, affrontando todos os perigos, sujeitando-se a todo genero de privações para descobrir jazidas de ouro ou pedras preciosas; e nem outra cousa é de presumir.

     Ouçamos o dialogo que entre si travam os tres personagens de que acima nos occupamos, e veremos até que ponto póde ser exacta a nossa conjectura.
     - ltapema - disse o branco, dirigindo-se ao caboclo, - estou quasi a desesperar. Ha mais de quatro mezes que andamos foragidos por estes ermos e nada conseguimos, nem gente, nem ouro.
     - Si quer que lhe falle verdade, patrão, - respondeu o bugre, - nós não fizemos bem em vir para tão longe. Lá mesmo pelas redondezas de S. João d'El-Rey, hoje mais perto, amanhã mais longe do arraial, se podia ter arranjado gente para dar cabo daquelle maldito Capitão-Mór e toda a sua grey.
     - Mas, ltapema, e minha cabeça a premio. E os agentes assassinos, a quem prometteram quantos mil cruzados ?... já nem me lembro...
     - Vinte, patrão.
     - Ah! bem vês ... por aquellas immediações todos me conhecem perfeitamente e não haveria disfarce que pudesse me livrar do punhal dos perfidos e avaros assassinos, e eu não quero morrer sem me justificar aos olhos de Leonor, sem desmascarar o infame Fernando e salval-a, vingando-me delle.
     - Sim, patrão; mas mesmo para isso, não teria sido melhor ficar por lá, mais perto?... ao menos poderiamos ter noticias de nossa gente que lá ficou nas unhas do Gapitão-Mór e do maldicto Fernando; de D. Leonor, de minha Indahyba, de mestre Bueno ... quem sabe o que será feito delles ?!...
     - Sim, meu amigo; esta incerteza da sorte das pessoas a quem tanto amamos, por quem temos feito tantos sacrificios, é sem duvida mais um martyrio cruel; mas por lá, nos domínios do Capitão-Mór, a vigilancia deve ser extrema, e, antes que pudessemos arranjar meios de fazer frente a elles, e exigirmos com as armas na mão aquillo que, bem podemos di-

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