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O ABOLICIONISTA

O sucesso de 1859, que parece haver-se repetido em 1861, não foi capaz de manter viva e alta a tendência de Gama, no sentido de aumentar sua bagagem literária Sua estréa é tambem um ponto final. Pareceria que satisfeita a vaidade de ter livro publicado, desalterada a sêde de renome, a benevola e carinhosa acolhida da crítica atuara como calmante e como sedativo. A mim, afigura-se-me diversa, entretanto, a causa da sua paralização literaria.

Gama encontrava no seu meio questões outras, bem mais importantes e bem mais sérias, que não comportavam, senão esporadicamente, um tratamento paliativo pelo ridículo. E entre elas, para seu espírito de ex-perseguido, não podia deixar de avultar a liberdade dos negros, dos homens de sua raça, a que estava preso pelos laços de sangue. Devia parecer-lhe um absurdo, quiçá mesmo um crime, que ele andasse em busca do renome literário, da glória pelas letras, deixando-se favonear pelos mesmos homens que sacrificavam seus infelizes irmãos e se pavoneasse com o exito de um brilho secundário, quando tantos desventurados gemiam no jugo do cativeiro.