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SUD MENNUCCI

escapariam as apreensões maternas, em dias e dias seguidos de agonia e de terror, preparado como devia estar pelas conversas anteriores, comentando o infortúnio dos negros.

A tempestade passou sem consequencias deploraveis, mas na alma do pirralho a impressão devia ter ficado profunda e indelevel.

Aos sete anos e meio, atinge-o novo e tremendo vendaval, consequencia de outra revolução não já de negros, mas de brancos: a “Sabinada”, pagina heroica, das mais vívidas que a aspiração democratica fez refulgir em nossa terra. Gama teve os pais envolvidos na contenda. Viveu os quatro meses de ansiedade e de inquietação do cerco da Capital. Assistiu á carnificina da impetuosa investida legal, que requintou a natural brutalidade da luta com a sanha dos atos de barbarie. Viu a Baía ardendo num imenso braseiro, onde se jogavam os prisioneiros inermes. E tremeu, nos dias subsequentes á derrota, pela sorte dos progenitores. E no embate, foi ele o mais mal aquinhoado. Luiza Mahin, temerosa da repressão legal á tentativa de instauração republicana, esgueira-se para o Rio. Seguem-se-lhe os tres anos de inútil espera. E, por fim, o desastre: o embarque forçado para o Rio, nas condições dramáticas que se sabe.

Não será preciso ser um especialista de psicologia para compreender as reservas de ódio, de desespero, de maldição que armazenaria essa infeliz criança, tão cedo martirizada em sua atribulada existência. E compreende-se perfeitamente que á medida que a vida lhe foi ensinando