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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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cousas ainda mais doloridas e sufocantes, tivesse ele redobrado de horror, de ira refreiada, de colera inulta, que se foi cristalizando e concentrando como um tóxico violento, a envenenar-lhe todas as mais insignificantes fibras do organismo.

E o meio baiano apenas lhe fornecera o clima propício em que devia desabrochar a sua inicial e tateante vontade. Servia de pitoresco e criava-lhe a paisagem. Porque a sua personalidade ele a trazia do berço, nos cromosomas que lhe transmitira Luiza Mahin e nos quais a quota de rebeldia tinha singular predominancia. Releia-se a carta de Gama: Luiza é altiva, geniosa, insofrida, vingativa. Não tem medo. Prendem-na mais de uma vez pelos indícios que pareciam implicá-la em conjuras de escravos. Põe-se ao lado do amante, em 37, numa causa que não devia interessá-la minimamente, o que lhe denuncia o espirito de amotinada contra a sociedade.

Meio e antecedentes hereditarios tramam-se assim para dar ao caracter de Gama o relevo, o vigor, o cunho de absoluta independência que o haviam de estigmatizar para o sofrimento e para a gloria. Mãi e filho representam, em medicina, um caso de “sincainogênese”, a perfeita identificação do caracter de ambos, que se veiu a sublimar no rebento.