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A VENDA DO FILHO

Problema muito mais apaixonante que o do nome exato do fidalgo, é o dos motivos reais que o levaram a vender o filho. E apezar de nunca haverem sido discutidas, aceitando todos, mui naturalmente, as afirmações de Gama, nesse particular, não me parece comoda a interpretação dos fatos, tal como sempre foi apresentada e passou em julgado.

Relendo o parágrafo acima transcrito, o que se apura de definitivo, é que o amante de Luiza Mahin, depois de haver criado o menino com o maximo carinho e de haver sido um modelo de pai extremoso, resolveu, um dia, vendê-lo como escravo, por estar reduzido á miseria extrema, lançando mão de um expediente triplicemente repugnante: vendia um filho, fruto de seu proprio sangue, repudiando dez anos de bons tratos, e de afagos; fazia a transação com uma criança livre, filha de mulher liberta; negociara acerca de uma criatura humana sobre a qual não tinha o mínimo título de posse, desde que não lhe assistia siquer o pátrio poder reconhecido. Tudo isso em tróca de uns miseraveis mil reis que a sórdida operação lhe trazia de proveito.