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SUD MENNUCCI

E’ sumamente dificil, nas condições em que o problema se nos oferece, hoje, com os antecedentes que o próprio Luiz Gama põe em luz, aceitar o fato e a sua interpretação com a simplicidade que parece emanar de um relato feito ha oito lustros de distancia e baseado nas reminiscências de uma criança de dez anos.

A circunstancia de ser o fidalgo um amante inveterado de súcias e de farras, estrôina, peralta, jogador, amigo da vida desregrada e dissipada, não destroe a outra da boa conduta anterior para com o filho, de o haver cumulado de mimos e carícias, “criando-o nos braços”, na expressão textual de Gama. Um incidente, na aparência insignificante, mostra o cuidado do fidalgo anónimo pelo filho. Luiza Mahin nunca aceitara, como vimos, nem a crença nem a doutrina cristã, mantendo-se intransigentemente pagā, certamente subordinada ao culto gêge-iorubano que os nagôs haviam vulgarizado na Baía. Decorre naturalmente daí o fato de Luiz Gama não haver sido batizado na sua primeira infancia, isto é, quando ainda permanecia sob a tutela materna.

Pois bem, quando Luiza, com toda a certeza comprometida, junto com o amante, na “Sabinada”, achou prudente, depois de vencida a revolução rumar para o Rio de Janeiro, pondo-se cautelosamente fóra do alcance da polícia baiana, o fidalgo aproveita-se da ausência para cumprir o seu dever de crente. E leva o filho á pia batismal. Fá-lo, é certo, com a maxima discreção, mandando o pirralho á Matriz da ilha fronteira de Itaparica. Mas,