Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/159

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ção á minha pequena, ha um sobre todos de que eu muito me receio.

— Quem é? — perguntou Jorge, ainda não senhor de si.

Thomé hesitou por algum tempo, mas a final, como tomando uma resolução, respondeu:

— É seu irmão Mauricio.

— Mauricio! — repetiu Jorge, contrahindo a fronte. — Pois acaso tem elle dado já motivos para suspeitar?...

— Poucos; isto em mim é mais mêdo do que outra coisa. Hoje porém já me não agradou o que elle fez.

E Thomé narrou a Jorge a scena da manhã, acrescentando:

— Ora dos do Cruzeiro não tenho eu mêdo. Bertha conhece-os e é o que basta para ficar livre de perigo; mas com o snr. Mauricio já não é assim. Apesar das suas doidices, não se póde deixar de se gostar do rapaz, porque o fundo é bom e generoso, e depois... conhecem-se ha muito... e elle é estouvado e um rapaz bonito... e ella... ella tem dezoito annos... Emfim, snr. Jorge, isto anda-me cá a pezar, e por isso pedia-lhe que visse se obrigava seu irmão a deixar-me em paz a rapariga, porque nada de bom póde resultar d'aqui.

Jorge sentia apertar-se-lhe o coração ao ouvir aquella confidencia. Era pois certo que Bertha amava já Mauricio!

— Thomé — respondeu elle, sem trahir a sua agitação — socegue. Eu fallarei a Mauricio. Não creio que elle fizesse com intenção o que me diz; mas em todo o caso concordo em que é preciso evitar a tempo peores occorrencias. Faço justiça a Bertha; mas quero que meu irmão seja o primeiro a respeital-a. Eu lhe fallarei, creia.

— Muito bem — respondeu Thomé, apertando-lhe a mão. — Eu estava certo de que me daria essa mesma resposta.

Jorge acrescentou:

— Demais, Mauricio pouco se demorará aqui. Espero que em breve parta para Lisboa.

— Bom será. Talento tem elle para o poder apro-