Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/353

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E sem aguardar reflexões, Thomé, intimamente satisfeito com a prompta condescendencia da filha, sahiu da sala em procura de Luiza.

Jorge não desejaria conservar-se mais tempo alli, só, na presença de Bertha, mas faltou-lhe o animo para levantar-se. Ambos se conservaram calados por algum tempo.

Jorge nem levantára os olhos do livro.

Bertha foi quem primeiro rompeu aquelle glacial silencio.

— Devo-lhe agradecer, snr. Jorge, o muito cuidado que lhe merece a minha felicidade.

Jorge ergueu a cabeça e fitou os olhos no semblante de Bertha.

A violencia que ella fazia para reprimir a sua profunda commoção era bem manifesta.

— Espero que Bertha se não decidisse pelo partido que adoptou, senão por sua livre vontade — disse Jorge com mais brandura do que até alli — e que a minha ingerencia em tudo isto não influisse de maneira alguma para obrigal-a a sacrificar a sua felicidade...

— Oh! por certo que não — atalhou Bertha, cada vez mais agitada — eu sou. .. hei de ser muito feliz...

E não podendo reter mais tempo as lagrimas que lhe subiam impetuosas aos olhos, occultou o rosto entre as mãos e poz-se a chorar.

Jorge aproximou-se d'ella com compassiva solicitude.

— Porque chora, Bertha? — perguntou elle com affabilidade. — Se por acaso foi contra sua vontade que deu aquella resposta, ainda está em tempo. Ninguem lhe pede um sacrificio, repare. Porque chora assim, Bertha?

Em vez de responder, Bertha elevando para Jorge os olhos banhados de lagrimas, perguntou com a voz tremula ainda:

— Ficará pelo menos extincta de uma vez com este sacrificio a aversão que me tem, snr. Jorge?

Jorge estremeceu.

— A aversão que lhe tenho?! Que diz, Bertha?! Pois imagina?...