Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/365

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— Entrarei sem demora no assumpto. Sabes que formei o plano de partir ámanhã pela madrugada para Lisboa?

— Então que urgencias são essas?

— É que se não tomo uma resolução assim, não acabo de partir. Vou de adiamento em adiamento até ao fim do anno. E é indispensavel que parta.

— Indispensavel! — repetiu Jorge com ar de duvida.

— Com certeza que é. Além do que é necessario arranjarmos Mauricio. Has de concordar commigo, que esta vida perde-o. Cada dia que se passa para elle n'esta ociosidade campestre, exerce uma funesta influencia sobre aquelle caracter, aliás de muito aproveitaveis qualidades.

— Isso é assim. Porém Maurício que parta só.

— Não partirá.

— Porquê?

Gabriella hesitou em dar a razão que Jorge lhe pedia, e respondeu evasivamente.

— Sei que não partirá. Demais é conveniente que eu lhe prepare o caminho em Lisboa e por isso preciso de lá ir.

— Porém meu pae?

— Pois ahi é que está a dificuldade, e por causa d'isso é que eu reclamei esta conferencia.

— Então?

— O tio Luiz está bastante doente. Do corpo e do espirito. Chega a dar-me cuidados. N'aquelle estado não póde prescindir de certos carinhos e desvelos, proprios só de uma mulher. São-lhe já tão indispensaveis, que elle, coitado, aterra-se sómente com a ideia de ter de viver sem elles. Por isso não quer ouvir fallar na minha partida. A mim mesma me custa deixal-o, porque sei que lhe hei de fazer falta.

— E contudo diz que parte ámanhã!

— É verdade, porque julgo ter descoberto uma combinação que remediará tudo.

— Qual é?