— É preciso substituir-me. É preciso sentar uma mulher á cabeceira do tio Luiz, mas uma mulher que o estime, que olhe por elle, que o distraia e a quem elle consagre uma affeição que o faça esquecer de mim, e que lhe torne essa enfermeira ainda mais necessaria do que eu hoje lhe sou, e ninguem mais está n'este caso do que a afilhada d'elle, essa rapariga por quem o tio parece haver já manifestado uma particular sympathia, e que melhor do que ninguem póde vir a exercer sobre elle uma influencia salutar; n'uma palavra, Bertha da Povoa, a filha do Thomé.
Jorge não pôde reprimir um movimento de contrariedade ao escutar o projecto da baroneza.
Ergueu-se da mesa, junto da qual estivera sentado, e disse com certo modo sacudido, como exprimindo uma opinião irrevogavel:
— Não póde ser.
— Porquê? — perguntou Gabriella.
— Porque... porque não.
— Quererás dar-te ao incommodo de procurar outra razão mais logica, primo Jorge?
— Meu pae não aceitaria os cuidados da filha do Thomé da Povoa.
— Primeiro que tudo é preciso que consideres que o doente que eu deixo lá dentro não é já aquelle D. Luiz que nós ambos conhecemos na Casa Mourisca; depois Bertha para elle é raras vezes a filha do Thomé, é a amiga de Beatriz, é a imagem viva d'aquelle anjo, que elle ainda hoje chora. Teu pae não terá coragem para afugentar Bertha de junto do seu leito, e difficil será tiral-a de lá.
— Thomé não consentiria...
— O Thomé é um homem generoso e que, apesar de tudo, tem uma sincera affeição ao tio Luiz. O Jorge bem o sabe.
— Mas...
— Mas, a final de contas, a principal objecção está em que o primo Jorge não quer. E porque não quer?
— Não é isso, mas... Demais a mais Bertha não vi-