penho que faço em que o nome e o credito de nossa familia se conserve sem mancha... que...
O fidalgo interrompeu-o, batendo com violencia no peitoril da janella.
--E quem o manchou?--rugiu elle, quasi meio erguido, e fitando o filho com um olhar, cujo fulgor até á claridade tibia da lua se percebia.
--Até hoje ninguem; manchal-o-hei eu talvez ámanhã, quando não puder satisfazer os compromissos da nossa casa; manchal-o-hei, quando me bater á porta a miseria e me encontrar com habitos de ociosidade e sem a sciencia do trabalho--respondeu placidamente Jorge á violenta interpellação do pae.
--Então já sabes que te baterá á porta a miseria?--inquiriu o fidalgo amargamente.
D'esta vez foi Mauricio quem respondeu:
--Ha quem se encarregue de nol-o ensinar. Em cada homem do campo temos um mestre, e as crianças por ahi já sabem dizer que os fidalgos da Casa Mourisca estão empenhados.
D. Luiz a estas palavras estremeceu, como ao contacto de um ferro candente; virou-se irritado para Jorge, fallando quasi a custo:
--No meu tempo pagavam-se essas lições bem caras! Para isso serviam então, pelo menos, os rapazes das nossas familias.
--Tambem nós as pagariamos, senhor; mas, voltando a casa, dir-nos-ia a consciencia que não ficavam assim saldadas todas as dividas. O orgulho e a vingança estariam satisfeitos; mas a razão e o dever, não--contestou-lhe Jorge.
--Então queiram dizer-me o que lhes manda a razão, e... e o que mais?... Ah, sim... e mais o dever.
Jorge, sem se perturbar, acudiu:
--Mandam-nos trabalhar para remir essas dividas; luctar pela integridade d'estes bens, que são nossa herança, augmental-os antes se fôr possivel; mandam-nos manter em respeito essa gente, que nos olha com atrevimento, destruindo para isso os fundamentos da sua insolen-
OS FIDALGOS - VOL.1.
5