Página:Os Maias - Volume 2.pdf/425

Wikisource, a biblioteca livre
OS MAIAS
415

— Pois diga isso.

O outro encarou Ega com olhos que chammejavam:

— Diga isso, diga isso... Que diabo, senhor, é necessario ter topete!

Deu um puxão desesperado ao collete, foi bufando até ao fundo do cubiculo, onde esbarrou com o armario. Voltou, tornou a encarar o Ega:

— Não se vai a um homem com uma coisa d’essas sem provas... Onde estão as provas?...

— Ó Villaça, desculpe, você está obtuso!... A que vim eu aqui senão trazer-lhe as provas, as que ha, boas ou más, a historia do Guimarães, essa caixa com os papeis da Monforte?...

Villaça, que resmungava, foi examinar a caixa, virando-a nas mãos, decifrando o mote do sinete Pro amore.

— Então, abrimol-a?

Já Ega puxára uma cadeira para a mesa. Villaça cortou o papel, gasto nos cantos, que envolvia o cofre. E appareceu effectivamente uma velha caixa de charutos pregada com duas taxas, cheia de papeis, alguns em maços apertados por fitas, outros soltos dentro de sobrescriptos abertos que tinham o monogramma da Monforte sob uma corôa de marquez. Ega desembrulhou o primeiro maço. Eram cartas em allemão, que elle não percebia, datadas de Buda-Pesth e de Carlsruhe.

— Bem, isto não nos diz nada... Adiante!

Outro embrulho, a que Villaça cuidadosamente