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OS MAIAS

desapertou o nó côr de rosa, resguardava uma caixa oval com a miniatura d’um homem de bigodes e suissas ruivas, entalado na alta gola dourada d’uma farda branca. Villaça achou a pintura «linda».

— Algum official austriaco, rosnou Ega. Outro amante... Ça marche.

Iam tirando os papeis por ordem, com a ponta dos dedos, como tocando em reliquias. Um largo enveloppe atulhado de contas de modistas, algumas pagas, outras sem recibo, interessou profundamente o Villaça — que percorria os items, espantado dos preços, das infinitas invenções do luxo. Contas de seis mil francos! Um só vestido, dois mil francos!... Outro maço trouxe uma surpreza. Eram cartas de Maria Eduarda á mãi, escriptas do convento, n’uma letra redonda e trabalhada como um desenho, com phrasesinhas cheias de gravidade devota, dictadas decerto pelas boas Irmãs; e n’estas composições, virtuosas e frias como themas, o sincero coração da rapariga só transparecia n’alguma florzinha, agora sêcca, pregada no alto do papel com um alfinete.

— Isto põe-se de parte, murmurou Villaça.

Então Ega, já impaciente, esvaziou toda a caixa sobre a mesa, alastrou os papeis. E entre cartas, outras contas, bilhetes de visita, um grande sobrescripto destacou com esta linha a tinta azul: — Pertence a minha filha Maria Eduarda. Foi Villaça que lançou os olhos rapidamente á enorme folha