Página:Poesias de Maria Adelaide Fernandes Prata offerecidas as senhoras portuenses (1859).pdf/114

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Uma creança recem-nascida, que appareceu no rio Douro em um cestinho, e que se julgou deitada ahi pela mãe, deu motivo ao seguinte
 
Soneto.
 

Ente cruel, horror da natureza!
Peior que o ligre féro, ou que o leão,
Que os filhinhos animam com paixão,
Deixando seu rancor, toda a fereza.

Que mãe tão insensivel! que dureza!
Olvida todo o amor, toda a affeição,
Sem, que lhe solte um ai o coração,
N'um monstro se transforma de crueza!

Ah! que em vez d'estreitar junto ao seu peito
O filhinho, que acaba de nascer,
O Douro lhe destina para leito!!

Mas este, horrorisado, não quer ser
Cruel como essa mãe, e com respeito,
A' terra o restitue a fenecer!