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O engenheiro começára a fallar portuguez, expressamente, explicava elle, para ser entendido pelos seus amigos.

Pouco a pouco, foram-se amiudando as visitas.

Pepe ficava-se dias seguidos em casa do Manuel Cherne, captivo do encanto de Severina, envolvendo-a na irresistivel fascinação do seu amor, provando-lh'o a cada instante em attenções de uma delicadeza reservada e por isso mesmo duplamente perigosa.

Por esse tempo, o Silvestre, que passava semanas inteiras no mar, apparecendo raras vezes em casa da noiva, — sempre taciturno e cabisbaixo, — veio participar ao Manuel Cherne que resolvêra ir tentar fortuna ao Brazil, acceitando para o effeito a proposta que lhe fizera o capitão de um brigue hollandez, ao engajal-o para moço de bordo.

O velho tentou dissuadil-o, recordou-lhe a projectada união com a filha, encarregou Severina de eonvencel-o.

Mas o Silvestre insistiu no seu proposito, pretextando que só easaria quando pudesse offerecer á menina Severina um marido, que lhe désse a estimação que ella merecia.

Quatro dias depois largava de Sincs, direito a Lisboa, o brigue que levava o Silvestre, á vista da familia Cherne, agrupada na praia, acenando-lhe, pequenos e grandes, o adeus saudoso, que punha lagrimas nos olhos de todos, emquanto o pobre rapaz, voltado para a terra onde lhe ficava para sempre morta a primeira e a unica felicidade da sua vida, chorava convulsivamente.