Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/169

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Nosso Senhor lá dentro. Vosmecê tem medo de entrar na igreja?

— Ah! na igreja...

— Pois isto aqui é como uma igreja - a gente reza e ouve os conselhos do irmão.

Um homem magro passou por elas encolhido, sem voltar o rosto e foi-se vagarosamente, escada acima, a tossir.

— Quando me lembro de Dona Amélia...

— Então vosmecê pensa que Dona Amélia ficou maluca por causa do espiritismo? Ela nunca veio aqui, isso eu juro a vosmecê; nunca veio. Pode ser que em outros lugares haja falta de respeito, aqui não. Mas vamos, minh'ama. Não sei que parece a gente aqui parada, feito duas tolas. Minh'ama experimenta; se não gostar não volta e está acabado.

— Pois sim.

Entraram. Dona Júlia, com as mãos geladas, o peito oprimido, subia lentamente. Em cima, suspirando, cansada, lançou os olhos pela sala vasta e sombria, escassamente alumiada por dois amortecidos bicos de gás. Junto à escada havia uma caixa de esmolas e ela procurava dinheiro no bolso fundo do vestido, quando a negra chamou-a para apresentá-la a um crioulo que estava de sentinela a um grande livro aberto sobre uma mesinha.

— Minh'ama, seu Damião.

O crioulo inclinou-se, estendendo a mão áspera e suada e, mostrando o livro, pediu: que assinasse. Trêmula e receando