Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/168

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pesado corpo aos rebolos, arquejando e, ao alcançar o bonde, com as pernas trêmulas, ofegante, agarrou-se aos balaústres, guindando-se.

— Você foi correr, Felícia... sabendo que eu não posso - repreendeu esbaforida. - Estou aqui pondo a alma pela boca.

O bonde partiu.

A velha encolhia-se, receosa; mal olhava para os lados, indiferente às casas que fulguravam, profusamente iluminadas, com refletores radiantes; às músicas, que ressoavam em tarambotes; à multidão que formigava às portas dos chopes, como nuvens de mariposas em torno de claridades. Aterrava-a a idéia de um encontro com o filho e, quando a negra mandou parar o bonde em frente ao teatro São Pedro, teve um choque e perguntou baixinho:

— É aqui?

— É ali adiante.

Atravessaram a praça em direção à Travessa da Barreira. Na esquina, junto a um quiosque, marinheiros chalravam. Entraram em uma viela escura e, diante duma porta estreita, Felícia deteve-se segredando com mistério:

— É aqui, minh'ama...

Dona Júlia sentiu um grande abalo, as pernas curvaram-se-lhe e, hesitante, lançando os olhos pela comprida escada, sussurrou:

— Não sei que é, Felícia... mas estou com medo.

— Medo de que, minh'ama? Aqui não há nada que meta medo, é uma casa santa, vosmecê vai ver