Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/192

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— Não posso dizer.

— Por quê?

— Não posso! - regougou, debatendo-se.

— Adianta-nos, ao menos, alguma coisa. Quem assim te irrita está conosco, ainda encarnado, ou já subiu para a região pura dos espíritos?

— É um espírito.

— E paira sobre nós?

— Sim...

— Irmão Canedo, - disse o pregador com solenidade, - ponha-se em comunicação com o espírito que paira sobre nós para que possamos estabelecer a concórdia entre as duas almas irmãs.

O nomeado acercou-se da mesa, concentrou-se e entrou a falar com doçura: "Que não tinha ódios, que perdoava..." Mas à pergunta do apóstolo: "Se era homem ou mulher?..." e, à resposta do médium: "Que era mulher..." a mocinha ergueu-se e, espumando, de olhos muito abertos, declarou num grito: "Mentes!" Dona Júlia, profundamente emocionada, rompeu em pranto nervoso, baixando a cabeça sobre o colo. Lembrava-se de Violante. Que seria dela? Onde andaria? Aquele incidente abalou-a, não pelo sofrimento da vítima passiva, mas pelo destino da filha. Pobrezinha! Sem poder conter-se pôs-se de pé chamando a negra imperativamente:

— Vamos, Felícia.

A negra levantou os olhos - duas lágrimas rolaram.