Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/200

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o café lentamente, sorrindo para a mulata que se bambaleava dengosa.

— Mamede foi muito longe?

— Ao Engenho Novo.

— Nossa Senhora! Fazer o quê?

— A negócio...

— Negócio...! - e esticou o lábio carnudo, mordendo-o depois, com um sorvo, d'olhos faceiramente revirados. Por fim, derreando a cabeça, num quebranto, esticou o braço para receber a xícara. O rapaz fitou-a abrasado.

— Que é que está me olhando? Deixe ver a xícara.

Paulo ardia em volúpia. Adiantou um passo, ainda indeciso, hesitante, com medo. Ela baixou os olhos fingindo-se distraída. De repente, como se o houvessem impelido, achou-se no corredor, face a face com a rapariga. Ela encolheu-se, colada à parede, os braços cruzados como a defender o colo; estava em mangas de camisa, com uma saia de ramagens.

— Que é isto? O senhor está doido!? - exclamou arrepiada, retraindo-se.

Paulo ficou a contemplá-la, sem uma palavra, trêmulo, farejando o cheiro sensual que se desprendia daquela carne de mestiça, viçosa e árdega. Adiantou-se com a humildade de um vencido, balbuciando tremulamente:

— Ritinha.

— Que é? fez ela, toda lânguida, d'olhos úmidos, inclinando a cabeça sobre o ombro nu, reluzente.

Ele estendeu a mão, ela curvou-se,