Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/209

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muito juntas, conversando tranqüilamente. Felícia não conhecia as casas de penhores e esteve a dar voltas pelo Largo do Rocio, atarantada, a olhar, até que resolveu perguntar a um homem que lhe indicou uma travessa, mostrando-lhe a casa iluminada. A negra, que deixara Dona Júlia à espera, junto ao teatro, correu a buscá-la.

— Vamos, minh'ama. - A velha seguiu-a, muito tímida, evitando os transeuntes, cosendo-se com a parede até que alcançaram a casa. - É aqui. Vosmecê entre; eu espero na porta.

Dona Júlia entrou, metendo-se em um dos cubículos. Ao lado falavam, era um murmúrio vago de palavras indistintas, pronunciadas como no mistério da confissão. Um súbito receio gelou-a: "E se o homem, vendo-a tão pobre e com aquela jóia rara, tomasse-a por uma ladra?!"

Trêmula, pôs-se a desembrulhar a medalha e foi com um fio de que respondeu à pergunta: "que precisava de quatrocentos mil réis. "O homem retirou-se com a medalha e, à luz, abriu-a, examinou-a detidamente, virando-a, revirando-a, sacudindo-a na palma da mão; pesou-a numa pequena balança, depois, tomando ao balcão, disse secamente:

— Duzentos mil-réis.

— Só!? exclamou a viúva espantada.

— Os brilhantes são muito pequenos.

— E trezentos?

— Duzentos.