Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/264

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rijas bengaladas que estrondavam nas mesas, aos tinidos das garrafas, às palmas estraladas com que os chamavam de todos os lados. E a murmúrio arrastado e incessante dos passos dava a impressão dum grande vento a vergar frondes, a torvelinhar folhagens.

Eugénie, conhecedora do seu "mundo", atraíra à sua festa, como engodo, todo o parasitismo galante. Fora, à gandaia, circulava a miuçalha, a fina flor impunha-se nos camarotes fazendo, em lento passeio, a volta da varanda ou em palestra junto à balaustrada.

O botequim transbordava e por toda a parte era um sussurro de festa, uma alegria estróina, risadas, gritinhos ou, modestamente, em algum recanto mais calmo, em penumbra, um casal em colóquio, sorvendo licores - ela a fazer-se ingênua, tímida, d'olhos baixos; ele todo inclinado, meigo, segredando com doçura.

Quando Paulo e Aurélio chegaram, a orquestra atacava, com fragor, uma sinfonia e o jardim esvaziava-se, todos corriam para o recinto ou iam tomar lugar à volta da balaustrada que circula a platéia, com curiosidade de ouvir a Eugénie, que devia abrir a segunda parte. Os floristas levantavam as varas apinhadas de ramos, oferecendo-os; de longe em longe, à mesa de indiferentes, rolhas espocavam ou era um cão, tosado á feição leonina, que se punha a ganir, de rojo pelo chão, aos rebolos.