Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/265

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Os dois rapazes deram volta, olhando friamente. Aurélio notou o grande número de cocottes:

— Como está isto! Nem uma família... Enoja! Fez um momo e cuspiu.

Paulo, sem responder, varava a multidão, levando, de vez em vez, a mão ao peito para apalpar, sentir o dinheiro no bolso interior do casaco abotoado. Aurélio queixou-se do frio. "Estava picante..." e propôs uma dose de whisky e Seltz, ali fora, longe daquele tumulto sórdido que tresandava. Mas o pano ia subir.

Fez-se um movimento de atenção; as curiosos apertavam-se, oprimiam-se, espichavam-se, d'olhos alongados, à espera da beneficiada. Subitamente a pano enrugou-se, subiu. Houve uma explosão de palmas, voaram ramos e flores soltas ao palco e, sorrindo, com os dedos apinhados em beijos, viva, duma graça desembaraçada de efebo, muito escorreita num costume de jóquei, Eugénie desfazia-se em galanteios, comovida, atendendo a toda a sala, avançando, recuando, o busto curvado, pisando ligeiramente, com as botas muito lustrosas, o boné junto ao seio, a cabeleira loura toda arrufada em cachos.

O regente ergueu-se no estrado e ofereceu-lhe uma corbeille cheia de fitas esvoaçantes, com um casal de inquietos pombos brancos batendo as asas entre rosas. De novo as palmas estrondaram,