Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/292

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das pirraças, das violências, das grosserias, de todas as afrontas? Não compreendia aquela visita ao aposento íntimo senão como uma premeditada provocação, ainda agravada com aquela roupagem leve que mal pousava sobre as carnes, deixando visíveis todas os contornos, realçando todos os relevos, numa excitante exposição, apenas velada pela discrição de um leve tecido, de umas rendas soltas.

Teve um vivo movimento de revolta; logo, porém, lembrando-se do envelope que recebera, abriu-o e desdobrou uma nota de duzentos mil-réis. Guardou-a de novo. Passava um bonde, tomou-o, saltando à porta de casa. Dona Júlia recebeu-o com recriminações carinhosas.

— Tu estás doido, meu filho!? Para que tudo isto? Nem eu tenho lugar para meter tanta coisa. Isto vai estragar-se. Imagina o dinheirão que está aqui.

A mesa estava abarrotada de latas, frascos, embrulhos, pacotes; grandes sacos de papel espocavam repletos. Pelo chão, junto à parede, havia caixotes, gordos sacos acaçapavam-se, empilhavam-se latas. Paulo, de mãos nos bolsos, sorria superiormente.

— Estamos livres dos caixeiros, pelo menos durante dois meses.

— Tu não podes ter dinheiro na mão. E como foi? Tiraste alguma sorte?

— Ganhei.

— Onde?