Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/344

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O mulato entrou.

— Lá não te disseram nada?

— A mim? Que haviam de dizer? resmungou.

— Pois eu pedi para te dizerem.

Sentou-se. Mamede, de pé, encostado à mesa, balançava a perna.

— Eu estava mesmo pensando em sair para procurar um cômodo, porque não podia mais com a amolação de seu Lisboa, que não me deixava a porta, quando seu Paulo me apareceu chorando, pedindo para eu vir para cá, fazer companhia à velha que estava nas últimas. Eu disse que estava devendo a casa, ele emprestou-me dinheiro, ofereceu-me um cômodo para guardar os meus trastes. Você não aparecia, eu vim. E estou aqui.

— Fazendo quarto? - troçou o mulato com ironia.

— Você não acredita; pois vem ver...

— Quero lá saber de histórias... Não pense você que eu vim aqui pelo faro. Mulheres, minha filha, isso é coisa que não falta. O que me arrancou do meu sossego foi o desaforo.

— Mas se eu estou dizendo a verdade, Mamede. Vem comigo.

Tomou-o pela manga do casaco, o mulato repeliu-a com um safanão.

— Sai! Você não vai com cachorro não sei por quê. Fica, eu vou-me embora, Eu só queria olhar essa cara. O outro não perde por esperar, só se eu não sou filho de minha mãe. Não pense você que eu tenho rabicho, o que eu tenho é vergonha,