Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/349

Wikisource, a biblioteca livre

ouvir o estertor angustioso, mas a morte passara - aquele fora o último olhar à vida, cheio de agonia, cheio de saudade, talvez de queixas, antes de apagar-se para todo o sempre na eterna sombra da morte.

— Então, Ritinha?

— Acabou. Deus a tenha!

— Coitada de minha mãe!

A mulata apalpou o peito procurando sentir o coração - todo o movimento cessara.

— Paciência, disse: Está no céu.

Ele saiu do quarto soluçando, atirou-se à rede e ali ficou, sem coragem, numa prostração invencível, recordando, com remorso, as cenas das últimas noites: "Coitada! Quem sabe se não foi o desgosto que a acabou mais depressa? Fiz mal! Devia ter esperado um pouco. Ela era tão boa, coitada!" Sentiu, então, um grande vazio, achou-se só, sem um afeto sincero, nas ruínas da casa. Foi, dia novo, ao quarto e, sentando-se na cama, a olhar a morta, pensou que não fizera o bastante para salvá-la. Esquecera-a, deixara-a acabar sem os necessários cuidados. Pobre velha! Tomou-lhe a mão, beijou-a repetidas vezes e baixinho, pedia perdão, desculpava-se: "Minha pobre mãe! Minha mãezinha... tão boa...!" Quando Mamede chegou perguntando se o médico já viera, Ritinha deu-lhe a notícia.

— Coitada da velha! A menina disse que só pode vir mais tarde. Estava lá de troça com uns