Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/350

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moços. E nhozinho?

A mulata fê-lo entrar. Paulo recebeu-o soluçando, abraçaram-se

— Tenha coragem, nhozinho. Vosmecê é homem. Descansou, coitada. Coragem! Eu fico aqui para ajudar no que for preciso. Sou seu amigo, nhozinho. Tenha paciência. Conforme-se com a vontade de Deus.

A vizinha, sabendo que a velha havia morrido, apareceu, muito enternecida, lamuriando. A mulata levou-a ao quarto. Ficaram as duas diante do cadáver, em contemplação silenciosa. Paulo chegava à porta, olhava e retrocedia chorando.

A vizinha ofereceu-se para ajudar a vestir o corpo. Foi um devassar de móveis: armários abertos, canastras revolvidas à procura de roupa; camisas, saias, um vestido decente. E os linhos puídos, remendados, tresandando a ervas, empilhavam-se aos pés da cama sobre retalhos, restos de rendas, pedaços de fitas. Paulo lembrou um velho vestido de merinó preto; acharam-no, e os dois homens passaram à sala da frente enquanto as mulheres, abrindo de par em par as portas do quarto compunham o cadáver.

Quando reapareceram, Mamede propôs trazerem o corpo para a sala. Arranjaram a mesa colocando-lhe em cima duas tábuas e foram buscar o cadáver. Mamede saiu a comprar velas, acendeu-as e reuniram-se na sala. Paulo, sucumbido, suspirava de quando em quando. Ninguém ousava falar; foi a vizinha quem quebrou o silêncio para elogiar a finada: