Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/360

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causa de brinquedos. Nem vosmecês se lembram. Também eram tão pequeninos. E ela, coitada! contendo um, contendo outro, para não brigarem. Parece que foi ontem.

Violante ouvia com a cabeça inclinada ao ombro. Paulo falou lentamente:

— Tu nem te lembravas do Mamede, hem, Violante?

Ela fitou os olhos no mulato e murmurou:

— Lembrava-me.

— Qual! Estou velho.

— Nem por isso.

— Nem por isso? É porque vosmecê está me vendo de noite. - E, passando a mão na poupa da gaforinha: Cabelo branco aqui é mato. Vosmecê sim, é que está uma mocetona de pancas! Eu hoje, quando dei com vosmecê, palavra! até duvidei...

— Querias encontrar-me ainda de vestido curto, brincando com bonecas?

— Uai! Nhazinha, a gente fica com as pessoas no coração. Eu, quando falava em vosmecê, só via a menina que conheci no tempo do velho. De repente sai diante de mim um pedaço de moça, quase da minha altura. Fiquei tonto, palavra.

— E que faz você, Mamede?

— Eu Nhazinha? por aqui, cachimbando tristezas. Nem todo o mundo é feliz como vosmecê.

— Feliz, hem? Achas que sou feliz...

— Uai? Que mais então?