Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/37

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Encolhido, sentindo a fria umidade da roupa, ia pensando na irmã: "Talvez a encontrasse em casa, arrependida implorando o perdão". Via-a de joelhos, banhada em lágrimas, agitada pelos soluços e a mãe a afagá-la, numa grande e transbordante felicidade. Mas o cocheiro interrompeu-lhe o sonho:

— Que tempozinho! E anda por ai moléstia que é um horror!

— É verdade.

— A bexiga então... O senhor não imagina. Lá na minha rua dois casos. Ontem foi-se um companheiro meu, deixando mulher e dois filhos. Um rapaz fonte que fazia gosto - vendia saúde. Agora fica praí, sem amparo, a pobre rapariga, com dois pequenos agarrados à saia. Mas que quer o senhor? um homem precisa, não pode estar a escolher. Ele apanhou um freguês para Catumbi e lá esteve com o carro à espera, mais de uma hora, perto duma vala. Até expirar não falou de outra coisa "que apanhara a moléstia naquela viagem. Que se não fosse o demônio da vala..." Mas nós temos de ir a toda a parte, para isso é que saímos.

Atirou uma chicotada à anca ossuda da alimária, que arrancou a trote fazendo ranger o tílburi, tão velho como ela, ameaçando desfazer-se em caminho, e continuou, inclinando-se, de vez em vez, para atirar à rua grossas cusparadas.

— Também não há quem cuide da cidade. Veja o senhor isto: não há molas que resistam.