Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/38

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Uma das rodas ficara entalada numa fossa, o animal ladeava esforçando-se, e o cocheiro, a fustigá-lo, cacarejava sacudindo as rédeas. Safando o veículo, o sendeiro partiu desabrido, apesar dos psius! do cocheiro, que retesava as rédeas.

— Ainda tem fogo. Aqui tem o senhor um bicho que trabalha há doze anos e não é qualquer que lida com ele. Tem ronha! Eu mesmo, às vezes, vejo-me atrapalhado.

Paulo não lhe dava atenção, preocupado, como estava, com o caso da irmã. Mas como fora aquilo? A força?! Não! Violante não era uma criança que se deixasse arrebatar por um desconhecido. Só? Também não! Para onde? E se houvesse saído para casar? Mas qual! Tivesse o tipo tal idéia, certamente não a aviltaria em uma fuga, de mais a mais, sem motivo. Fora contrariada? Não. Namorava, mas dizer que tinha amor a este ou àquele, isso não. Devia ser algum desses bilontras - quantos conhecia ele! - que exploram raparigas, lançando-as no vício. para viverem à custa da sua degradação. Um ímpeto de furor sacudiu-o: encheram-se-lhe os olhos d'água. O cocheiro bocejou alto, atirando uma relhada ao flanco do animal que trotava. Subiam a Rua do Dr. João Ricardo quando um silvo agudo cortou o silêncio da noite fria.

— Já o expresso!? - exclamou Paulo, em sobressalto. - Que horas serão?

— Deve andar perto das quatro.

— Como?! Já!

— Sim, senhor: não pode faltar muito.

Ao voltar o tílburi