Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/39

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a rua, Paulo sentiu esvaziar-se-lhe repentinamente o coração como se todo o sangue se houvesse escoado. Lá estava a luz sinistra filtrando-se através das persianas. Era o sinal da vigília.

— Ali! disse.

O tílburi parou à porta e logo a janela abriu-se e a negra apareceu. com a trunfa muito branca e disse para dentro: "É nhonhô..." Ele compreendeu que ainda esperavam a desaparecida; pagou e desceu. O tílburi deu volta e foi-se lentamente, rangendo, como a desmantelar-se.

— Nada? perguntou à negra que lhe abria a ponta.

— Não, senhor.

Vindo da noite fria, sentiu uma impressão tépida, agradável, naquela sala iluminada e lúgubre. A negra pôs-se a fechar a porta correndo o ferrolho e ele caminhou direito à sala de jantar, desanimado, receoso, com o coração aos baques. Que havia de dizer à mãe que o esperava ansiosa, confiada na sagacidade da polícia?

Para os simples a polícia é ainda um conforto porque só a vêem através das lendas. A polícia tudo conhece e porque, raro em raro, descobre um criminoso, entende a pobre gente que ninguém lhe escapa, tanto o assassino como o ladrão, o que mata como o que furta. A pobre senhora acariciava a esperança