Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/60

Wikisource, a biblioteca livre

filho tinha uma mancha de ferro e propôs substituí-lo.

— Não, serve este mesmo, - disse ele levantando-se e batendo forte com os pés para ajeitar os sapatos. Ainda mastigando, recebeu de Felícia a xícara de café; tomou-o em três goles e, dirigindo-se a Dona Júlia, disse-lhe: E agora não fique para aí chorando: almoce descansada. Eu vou ver. Tenho esperança de conseguir alguma coisa com o Mamede.

Tomou o chapéu, mas Dona Júlia adiantou-se com a escova.

— Espera um pouco, não vás assim! - e pôs-se a escová-lo vagarosamente.

— Lembre-se de sua saúde; a senhora anda doente. Eu estou aqui. Não vá agora amofinar-se por uma ingrata, que nem é digna da sua amizade. Eu, palavra de honra, se não fosse pela senhora, nem me abalava - que se arranjasse. - Dona Júlia curvara-se para escovar-lhe as calças.

— Isso não! É minha filha, é tua irmã!

— Pois sim...

— É teu sangue.

— Meu sangue, não! - negou indignado. - Não, que eu trabalho, faço pela vida. não ando a embonecar-me. Mas ela há de ver o bonito... - Oh!

— Não fales assim, Paulo! Deixa-a. Deus é grande! - E passando-lhe a mão pelas costas, para tirar um fiapo que esvoaçava repetiu: Deus é grande e é pai.

Paulo tomou a bengala e partiu.

— Deus te acompanhe! murmurou a velha.