"Doida não!" Antes vítima/Amor sublime
Na história do antigo Oriente, e na fase da constituição democrática de Israel, destaca um vulto radioso de mulher que a etimologia denomina «Estrêla do Mar».
Chama-se Maria, o dôce nome de origem semítica que em lingua hebraica se traduz por Mirmyam, cuja composição provém de Mir, mar, e yam, estrêla.
Tem uma história simbólica, a formosa mulher hebraica que nasceu irmã de Moysés, o profeta das revelações divinas e o legislador da primeira democracia do mundo, e como êle fadada para destinos de predestinação.
Maria de Sinai, foi uma claridade ideal que brilhou no céu fulgentíssimo dos povos hebraicos. Quando Moysés revoltou as turbas escravisadas ao despotismo dos Pharaós, foi a sua voz dulcissima que entoou as primeiras estrofes do hino libertador.
Maria de Sinai, é na peregrinação de Gessén á Palestina, a estrela do norte que guia, alenta, consola as caravelas fugitivas, suavisando as suas misérias, os seus clamores e revoltas, como fulgurante tradição de piedade, de fé e de heroismo femenino.
A semelhança de divindade ou de esfinge hierática envolta em diafana auréola de santidade, repudia o mundo, a ostentação, os amores da legião dos seus adoradores, que em vão sonham conquistar-lhe as graças. Tendo nascido para influir nos destinos do seu povo, consagra-se com disvelo e veemência à sua libertação.
As suas mãos brancas como as boninas dos vales, desprendem da citara maviosa, acordes e melodias divinas que converterão as almas ao influxo da arte. E com seus cantares dulcissimos, leva as ideias ao mais profundo das almas.
Cantora e poetisa, inspirada e terna, audaciosa, genial, e bela, toda a sua alma piedosa, sensivel e heroica, vibra num poema de renúncia que assinala essa fase agitadora do Exôdo do Egito.
O seu estro nativo, a sua voz de sereia, os seus cânticos que são gorgeios de ave canora, os seus olhos negros como o mistério da noite e suaves como plumagens de ninhos; a graça ondulante do corpo esbelto envolto em túnica de gazes aerias e roçagantes, dão-lhe uma fórma angélica de semi-deusa que fascina o povo e o converte.
Cura as feridas de corpo e alma dos peregrinos, apaga-lhes a sede devorante, apazigúa as suas revoltas, amaina as suas dores, embala as suas esperanças e alenta as suas descrenças e as suas fadigas de sequiosos do Oasis prometido.
Como os ideais artistas da renascença magnetisados de espiritualidade e magnetisadores do sentimento e da belêsa, Maria de Sinai dispersa a sua alma como um sôpro de emoção, crente em que o bem e a purêsa florescem cultivados pela poesia e pela bondade sob o império das virtudes humanitárias e civicas. Mas cançadas de caminhar, exaustas pela fadiga e a descrença, as tribus blasfemam e revoltam-se de novo.
Retrocedem á adoração do Bezerro de Oiro. Maria de Sinai sente-lhes a razão de descrentes desiludidos. E é indulgente para a violação das leis que deviam cingir-se á nova religião do Profeta. O seu crime de piedade suma, e punido com a blasfêmia de Moysés. E á cólera dos Deuses, é atribuida a expiação que vem atormentá-la. Maria é atacada de uma terrível enfermidade, denominada a lepra branca, asquerosa, classificada tambem de lepra eléctrica, porque se crê que provem de impurezas concentradas nos espaços orientais, agitados de constantes tempestades. As formas talhadas em graça donairosa no alabastro transparente do seu corpo, tomam um aspecto repugnante e pestilento. Mas invocados de novo os Deuses para que lhe fôra perdoado o crime de extrema piedade, volve de novo a saúde e a graça ao corpo mimoso e alvo de Maria. Mais tarde, quando os peregrinos atingiram emfim o deserto de Zin, assentando arraiais em Cades, Maria de Sinai deixava no mundo um rasto imorredouro de poesia e abnegação que brilhará eternamente no ceu do Oriente sob a formosa designação de «Estrela do Mar» imortalisando uma heroína de amor sublime.
Prouvera ao destino que o simbolismo desta legendária história de mulher convertesse a heroina dêste drama, em Estrela do Amor rival da «Estrela do Mar» na devoção e zêlo pelo destino do seu pôvo e da sua Pátria.
Porquê como as tribos de Israel revoltas, esfomeadas, exaustas e ignorantes, tambem o malfadado povo de Portugal carece do amor, da piedade, dos ensinamentos, do auxilio, das ideias e do coração de uma mulher a quem o destino concedeu dotes de alma e de fortuna que pode ser resgate, glória, consolação e conquista.