A Elvira
Quando, comtigo a sós, as mãos unidas,
Tu, pensativa e muda; e eu, namorado,
Ás volupias do amor a alma entregando,
Deixo correr as horas fugidias;
Ou quando ás solidões de umbrosa selva
Comigo te arrebato; ou quando escuto
— Tão só eu, — teus ternissimos suspiros;
E de meus labios solto
Eternas juras de constancia eterna;
Ou quando, emfim, tua adorada fronte
Nos meus joelhos tremulos descansa,
E eu suspendo meus olhos em teus olhos,
Como ás folhas da rosa avida abelha;
Ai, quanta vez então dentro em meu peito
Vago terror penetra, como um raio!
Empallideço, tremo;
E no seio da gloria em que me exalto,
Lagrimas verto que a minha alma assombrão!
Tu, carinhosa e tremula,
Nos teus braços me cinges, — e assustada,
Interrogando em vão, comigo choras!
«Que dôr secreta o coração te opprime?»
Dizes tu, «Vem, confia os teus pezares....
«Falla! eu abrandarei as penas tuas!
«Falla! eu consolarei tua alma afflicta!»
Vida do meu viver, não me interrogues!
Quando enlaçado em teus niveos braços
A confissão de amor te ouço, e levanto
Languidos olhos para ver teu rosto,
Mais ditoso mortal o céo não cobre!
Se eu tremo, é porque n'essas esquecidas
Afortunadas horas,
Não sei que voz do enleio me desperta,
E me persegue e lembra
Que a ventura co' o tempo se esvaece,
E o nosso amor é facho que se extingue!
De um lance, espavorida,
Minha alma vôa ás sombras do futuro,
E eu penso então: «Ventura que se acaba
Um sonho vale apenas.»