A Guerra Europea
Não ha homem que com maior reluctancia e maior repugnancia tenha encarado como eu, em toda a minha carreira politica, a perspectiva de se ver envolvido em uma grande guerra—(ouçam, ouçam)—e da mesma forma não ha homem mais convencido do que eu, de que só a poderiamos ter evitado sacrificando a pundonor nacional. (Grande applauso.) É facto tambem por demais conhecido, que toda a nação que uma vez se acha envolvida em guerra sempre tem invocado o sagrado nome da honra. Muitos são os crimes que em seu nome se tem comettido e que presentemente se estão comettendo. Muito embora isso, a honra nacional é uma realidade e ai da da nação que assim o não considere. (Ouçam, ouçam.) Porque é que a honra do nosso paiz se acha envolvida nesta contenda ? Em primeiro logar, estamos compromettidos por honrosas obrigações a defender a independencia, a liberdade, a integridade, de uma pequena potencia visinha que sempre viveu em paz. (Applauso.) A sua fraqueza não lhe permittiria forçar-nos a fazel-o, mas todo aquelle que se esquiva a cumprir o seu dever porque o crédor é pobre demais para o compellir a isso, não passa de um ruim villão. (Grande applauso.) Entrámos como participantes em um tratado, um solemne tratado-dois tratados-defender a Belgica a sua integridade. As nossas assignaturas acham-se affixadas no documento, assignaturas que de resto se não encontram isoladas pois não foi este o unico paiz que se comprometteu a defender a integridade da Belgica. Lá estão tambem as da Russia, França, Austria e Prussia. Porque é que a Austria e a Prussia não estão cumprindo com a sua parte do contracto ? Ha quem tenha suggerido que as nossas referencias a este tratado nada mais representam do que uma desculpa de nossa parte, manigancias e velhacaria para encobrir o nosso ciume de uma civilização superior (hilariedade) que estamos tentando destruir. A nossa resposta é o nosso modo de proceder em 1870. (Ouçam, ouçam.) Qual foi elle ? Era então Presidente do Conselho Mr. Gladstone. (Applauso.) Se bem me recordo, Lord Granville era o Ministro dos Negocios Extrangeiros e nunca me constou que jamais tenham sido considerados como Ferrabrazes.
O que é que elles fizeram em 1870 ? Achavamo-nos então ligados por aquelle tratado. Intimámos as potencias belligerantes a respeital-o. Intimámos a França e intimámos a Allemanha. É preciso ter presente que nessa occasião o maior perigo para a Belgica provinha da França e não da Allemanha. Interviemos para proteger a Belgica contra a França, precisamente o que agora estamos fazendo para a proteger contra a Allemanha. (Applauso.) Procedemos exactamente da mesma forma. Convidamos ambas as potencias belligerantes a declarar que não tinham tenção de violar o territorio Belga. Qual foi a resposta dada por Bismarck ? Disse que era superfluo fazer semelhante pergunta á Prussia em vista dos tratados vigentes. França deu uma resposta identica. Nessa occasião recebemos os agradecimentos do povo Belga pela nossa intervenção era um notavel documento. Foi este documento dirigido pela Municipalidade de Bruxellas á Rainha Victoria, depois dessa intervenção e era concebido nos seguintes termos: —
Deu-se isto em 1870. Reparem no que succedeu. Trez ou quatro dias depois d'aquella mensagem de agradecimento, achava-se encurralado um exercito Francez contra a fronteira Belga, com todos os meios de evasão tolhidos por um circulo de fogo dos canhões Prussianos. Havia apenas um meio de salvação. Qual era elle ? A violação da neutralidade Belga. O que fizeram elles ? Nessa occasião os Francezes preferiram a ruína e humilhação á quebra do contrato. (Fortes applausos.) O Imperador Francez, os Marechaes Francezes, 100,000 bravos Francezes armados, preferiram ser transportados para o captiveiro no paiz extranho dos enemigos a deshonrar o nome de sua patria. (Applauso.) Era o ultimo exercito em campo. Se tivesse violado a neutralidade da Belgica toda a historia dessa guerra teria sido modificada e apezar disso a França não quebrou o seu contracto quando era do seu interesse fazel-o.
"Um Bocado de Papel."
Hoje é do interesse da Prussia quebrar o tractado e acaba de o fazer. (Manifestações de desagrado.) Confessa-o com o mais cyninco desprezo por todos os principios da justiça. Diz ella "Os tratados só se cumprem quando vale a pena cumpril-os." (Hilariedade.) O que é um tratado ? Diz o Chanceller Allemão "um bocadoço de papel." Teem por ahi algumas notas de £5 ? (Hilariedade e applauso.) Não quero ficar com ellas. (Hilariedade.) Teem por ahi algumas dessas elegantes notinhas do thesouro de £1 cada una ? (Hilariedade.) Pois se teem queimem-nas são só uns bocados de papel. (Hilariedade e applauso.) De que é que são feitas ? De trapos. (Hilariedade.) Qual é o seu valor? O credito de todo o Imperio Britanico. (Vivos applausos.) Bocados de papel. Com bocados de papel tenho estado lidando no mez passado. Viu-se- que de repente o commercio mundial tinha ficado paralysado. A machina parára. Porque razão ? Eu lhes explico. O machinismo do commercio era posto em movimento por letras de cambio — (hilariedade) — miseraveis bocados de papel amarrotados, manchados, cheios de garatujas e no entanto é com esses miseraveis bocados de papel que se imprime movimento a grandes naves abarrotadas de milhares de toneladas de preciosos carregamentos, de um extremo de universo ao outro extremo (Applausos.) Qual é a força motriz que se encontra atraz delles ? A honestidade do commerciante." (Applauso.) Os tratados representam a moeda corrente internacional entre os homens de Estado. (Applausos.) Ora sejamos justos, os negociantes e industriaes Allemães gozam da reputação de serem tão serios e correctos nos seus negocios quanto é possível esel-o por todo o mundo commercial—(Ouçam, ouçam)—masse a moeda corrente do commercio allemão estiver tão depreciada como a dos seus estadistas, não haverá um negociante sequer, de Shanghae a Valparaizo, que volte a olhar para uma assignatura Allemã. (Vivos applausos.) Esta doutrina do pedaço de papel, esta doutrina pregada por Bernhardi, que os tratados só obrigam uma nação emquanto fôr de seu interesse, ataca o direito commum pela raiz. É a estrada real para o barbarismo. (Ouçam, ouçam.) É como se alguém se lembrasse de remover o Polo Magnetico porque impedia o transito de um cruzador Allemão. (Hilariedade.) Toda a navegação dos mares se tornaria perigosa, difficil e impossivel e todo o machinismo da civilização virra à terra se fôr com esta doutrina que esta guerra vencer. (Ouçam, ouçam.) Estamos combatendo contra o barbarismo—(Applauso)—e só ha uma maneira de pôr as cousas no seu justo logar. Se ha nações que dizem só respeitar tratados quando seja do seu interesse fazel-o, incumbe-nos a nós fazer tomar seu interesse assim fazel-o no future. (Applauso.)
Qual é a sua defeza ? Recordemos a entrevista que teve logar entre o nosso Embaixador e os grandes funccionarios Allemães. Ao ser chamada a sua attenção a este tratado de que elles eram partes, disseram " Não lhe podemos dar remedio. Rapidez de movimentos é o grande activo Allemão Ha ainda um activo maior para uma nação do que a rapidez de movimentos e vem a ser seriedade no seu trato. (Vivos applausos.) Quaes são as desculpas da Allemanha ? Diz que a Belgica estava conspirando contra ella ; que a Belgica se achava compromettida em uma grande conspiração com a Inglaterra e com a França, para a atacar. Não só isto não é verdadeiro como também a Allemanha sabe que não é verdadeiro. (Ouçam, ouçam.) Vamos a outra desculpa. Que a França tinha em mente invadir a Allemanha atravez a Belgica. Isto é absolutamente falso. (Ouçam, ouçam.) A Belgica disse " Naõ preciso do anxilio Francez. Basta-me a palavra do Kaiser. Cesar seria capaz de mentir ? (Hilarieade e applauso.) Todas estas historias de conspirações estão ja desacreditadas de ha muito tempo. Uma grande potencia deveria ter pejo em proceder como um fallido fraudulento faltando aos seus juramentos em todas as suas obrigações. (Ouçam, ouçam.) O que ella diz é falso. Faltou ao tratado deliberadamente e da nossa parte é um dever de honra cumprir com as suas obrigações. (Applauso.)
A Belgica foi tratada brutalmente—(Ouçam, ouçam)—e ainda não sabemos até que ponto chegou a brutalidade, o que sabemos porem já é demais. O que é porem que ella tinha feito ? Por ventura havia mandado um ultimatum a Allemanha ? Tinha ella desafiado a Allemanha ? Estava-se preparando para guerrear a Allemanha ? Per ventura commettera ella alguna acção que o Kaiser considerasse de seu dever desaggravar ? Pelo contrario era ella uma das mais inoffeisivas potencias pequenas de Europa. (Ouçam, ouçam.) Pacifica, industriosa, economica, trabalhadora não offendendo a ninguem. Os seus campos de trigo tem sido talados, as aldeias incendiadas, suas obras d'arte destruidas os seus homens chacinados e também as mulheres e creanças. (Infamia!) Centenas e milhares de seu povo, com suas aconchegadas e confortaveis casinhas reduzidas a cinzas, andam errantes sem lar no seu proprio paiz. Qual foi o crime delles ? Foi seu crime o terem confiado na palavra de um Rei Prussiano. (Applauso.) Não sei o que espera o Kaiser levar a cabo com esta guerra. (Risos ironicos.) Tenho cá a minha idea do que elle obterá ; o que porem pode dizer-se que elle tornou positivo, é que nenhum paiz jamais commeterá esse crime
Não me alargarei sobre detalhes de violencias. Muitas são menos verdadeiras, o que so sempre succede em tempo de guerra. A guerra é cousa fera e medonha, encarada quer pelo melhor ou pelo peor dos lados—(Ouçam, ouçam)—e não sou eu quem vá dizer que tudo o que se tem dito a respeito de violências é forçosamente verdadeiro. Mais ainda, direi mesmo que mandando-se dois milhões de homens para o campo da batalha, forçados, conscriptos, obrigados, tocados, forçosamente se encontra sempre entre elles um certo numero que practicará actos de se envergonharia a nação a quem pertencem. Não me baseio nessas historias. Contento-me com a historia que os proprios Allemães confessam, admittem, defendem e proclamam—os incêndios, massacres e fuzilamentos de povo inofensivo. Mas a perfidia dos Allemães ja lhes falhou Entraram na Belgica para ganhar tempo. O tempo foi-se (Applausos ruidosos e prolongados.) Não ganharam tempo, mas perderam o seu bom nome.
Não é porem a Belgica a unica potencia pequena que tem sido atacada nesta guerra e não procuro desculpas para me referir á questão de um outro paiz pequeno, a questão da Serbia. (Ouçam, ouçam.) Foi uma nação trenada em uma horrível escola, mas a sua liberdade conquistou-a, com tenaz valor e sustentou-a com a mesma coragem. (Applausos.) Se alguns serbios se acharam envolvidos no assassinato do Grão Duque deveriam ser punidos. (Ouçam, ouçam.) A Serbia admitte isto. O Governo da Serbia nada teve que ver com isto. Nem a própria Austria exigia tanto. O Presidente de Conselho Serbio é um dos homens mais competentes e honrados da Europa. (Ouçam, ouçam.) A Serbia estava prompta a punir qualquer do seus subditos a quem tivesse sido provada a complicidade nesse assassinato. Que mais se podia esperar ? Quaes eram as exigencias da Austria ? A Serbia sympathisava com os seus compatriotas da Bosnia e esse era um dos crimes e tinha que pôr termo a isso. A sua imprensa estava dizendo cousas desagradaveis acerca da Austria ; era preciso per cobro a tanto. Esse é o espirito Allemão; já se viu em Zabern. (Ouçam, ouçam e applausos.) Que audacia ! criticar um official Prussiano ?—(Hilariedade)—e se se rirem é crime capital; o coronel em Zabern ameaçou fazer fogo se isto se repetisse. Da mesma fórma, a imprensa da Serbia não se deve abalançar a criticar a Austria. Nem quero imaginar o que teria acontecido se tivessemos seguido a mesma orientação a respeito da imprensa Allemã. (Ouçam, ouçam.) A Serbia disse " está bem, daremos ordem para que os jornaes de futuro não critiquem a Austria ou Hungria ou seja o que for delles. (Hilariedade.) Quem haverá que duvide do valor da Serbia quando se metteu a contender com os redactores dos seus jornaes. (Hilariedade e applauso.) Prometteu não sympathisar com a Bosnia; prometteu não escrever artigos de critica acerca da Austria e não consentiria comicios publicos em que se dissessem cousas pouco benevolas a respeito da Austria.
Mas mesmo assim isto ainda era pouco. Teria que demittir do seu exercito os officiaes que a Austria subsequentemente indicasse. Esses officiaes acabavam de vir de uma campanha onde tinham accrescentado brilho ás armas Serbias; eram officiaes bravos, valentes e habilitados—(Ouçam, ouçam)—e note-se, os officiaes não foram mencionados, a Serbia tinha que comprometter-se a de antemão demittil-os do exercito, os nomes seriam mandados depois. Qual é o paiz do mundo que se poderia submetter a semelhante exigencia ? (Nenhum, nenhum.) Imagine-se que a Allemanha tinha mandado um ultimatum dessa natureza a este paiz dizendo " Demittam do seu exercito e da sua Armada—(Hilariedade)—todos os " officiaes cujos nomes depois mandaremos. Quer-me parecer que desde já os posso nomear—(Hilariedade)—Lord Kitchener—(Ruidosos applausos)—teria que sahir. Sir John French—(Applausos)—seria despedido ; General Smith-Dorrien—(Applauso)—teria que marchar e estou certo que Sir John Jellicoe—(Applauso)—teria que ir. Ha ainda um bravo e velho guerreiro que estou certo teria de seguir—Lord Roberts. (Applauso.)
A situação era difficil para um pequeno paiz enfrentado por um pedido de uma grande potencia militar que poderia apresentar em campo seis homens por cada um que a Serbia apresentasse e essa grande potencia appoiada pela maior potencia militar do mundo.
Qual foi o procedimento de Serbia ? Não é tanto o que acontece na nossa vida que importa e sim a maneira porque se encara—(Ouçam, ouçam)—e a Serbia encarou a situação com dignidade e disse para a Austria. Se alguns de meus officiaes tiverem sido culpados e sua culpabilidade for provada demittil-os hei." Austria disse : " Isso para mim não basta."
Nisto chegou a vez á Russia. A Russia tem uma affeição especial pela Serbia; tem interesse especial pela Serbia. Muitas são as vezes em que os russos tem derramado o seu sangue pela independencia da Serbia, porque a Serbia faz parte da familia da Russia a qual não pode consentir em que a Serbia seja maltratada. Austria sabia disto. Allemanha sabia disto e voltando-se para a Russia disse-lhe " Exijo que fique de braços cruzados emquanto a Austria estrangula o seu irmãosinho." Sabem que resposta deu o slavo Russo ? A unica que ficaria bem a um homem digno. (Ouçam, ouçam.) Voltou-se para a Austria e disse " Toque com um dedo só que seja no rapazinho a faço-lhe em cavacos o seu imperio de retalhos—(Vivo applauso e hilariedade)—e o caso é que assim o está fazendo.
Tal é a historia de duas nações pequenas. O mundo deve muito ás nações pequenas e aos homens pequenos. (Hiliariedade e applausos.) Esta theoria das grandezas ! A theoria de que se deve ter um grande imperio e uma grande nação ! e um grande homem ! Vamos la, as pernas compridas sempre tem alguma vantagem no caso de uma retirada. (Hilariedades e applauso.) Um dos antepassados do Kaiser escolhia os seus guerreiros pela altura e essa tradição perpetuou-se na Allemanha. Allemanha applica esse ideal ás nações e só consente que se alistem nações de 6 pés e 2 pollegadas. (Hilariedade.) Mas, ah ! o mundo deve muito ás nações de 5 pés e 5 pollegadas. A maior arte do mundo foi obra de nações pequenas; a litteratura mais perduravel do mundo proveiu de nações pequenas ; a litteratura mais grandiosa de Inglaterra data precisamente da epoca em que ella era uma nação do tamanho da Belgica combatendo contra um grande imperio. Os feitos heroicos que assombram a humanidade atravez de gerações teem sido os feitos de nações pequenas luctando pela sua liberdade. Sim e a salvação da humanidade teve logar por intermedio de uma pequena nação. Deus escolheu as nações pequenas como taças em que elle leva os vinhos mais generosos aos labios da humanidade, para regosijo dos corações, para engrandecer a visão, para estimular e reforçar a fé e se tivessemos cruzado os braços impassiveis quando duas nações pequenas estavam sendo esmagadas e destroçadas pela mão brutal do barbarismo, cobrir-nos-hiamos de vergonha até a consummação dos séculos. (Vivos applausos.)
Teima a Allemanha em dizer que isto é um ataque de uma civilização inferior contra uma outra mais elevada. (Exclamações ironicas.) A verdade é que o ataque foi iniciado pela tal civilização que se chama mais elevada. A Russia tem feito grandes sacrificios pela liberdade, mesmo grandes sacrificios. Lembram se do clamor da Bulgaria quando se achava dilacerada pela tyrannia mais insensata que jamais se viu na Europa ? Quem acudiu a esse clamor ? A unica resposta da tal civilização mais elevada foi que a liberdade dos camponezes Bulgaros não valia a vida de um só granadeiro Pomeranio. Mas os rudes barbaros do Norte, como os Allemães ousam chamal-os, mandaram seus filhos aos milhares para morrer pela liberdade Bulgara. E quanto á Inglaterra ? Ide á Grecia á Hollanda, Italia, Allemanha, França e em todos estes paizes eu vos poderia mostrar logares em que os filhos da Inglaterra morreram pela liberdade desses povos. (Vivos applausos.) A França igualmente tem feito sacrifícios pela liberdade de outros paizes extranhos. Apontem me um so paiz do mundo, pela liberdade do qual a Prussia moderna jamais tenha sacrificado uma unica vida ? (Nenhum.) Segundo a pedra de toque de nossa fé, a grau mais elevado de civilização é a boa vontade em sacrificar-se pelos outros. (Applausos.)
Não serei eu que diga uma unica palavra em desabono do povo Allemão. É um grande povo dotado de grandes qualidades de cabeça, mãos e coração. Creio que apezar dos recentes acontecimentos, o camponez Allemão ainda tem una dóse de affabilidade em nada inferior á de qualquer outro camponez do mundo; mas acha-se adestrado a uma idea falsa de civilização, eficiente, habil, mas civilização dura, egoista em summa uma civilização material. Não comprehende a acção da Inglaterra no actual momento e assim o dizem. Dizem por exemplo " Comprehendemos a França, busca vingar-se ; quer territorio-Alsacia e Lorena. (Applauso.) Dizem ainda que comprehendem a Russia ; combate pelo poderio—comprehendem que se combata por cobiça de territorio ; mas não comprehendem que um grande imperio hypotheque os seus recursos, o seu poder, as vidas de seus filhos, a sua proprira existencia para proteger uma nação pequena que pretende defender-se. (Applauso.) Deus fez o homen á sua imagem com o elevado fito na região do espirito ; a civilização germanica re creal-o-hia á imagem de um motor Diesel preciso, exacto, poderoso mas sem logar para as funcções da alma. (Ouçam, ouçam.)
Já leram os seus discuros ? Estão cheios de phraseado bombastico e luminoso do militarismo Germânico " punho armado " " armadura brilhante." Pobre " punho armado" ! está ja ficando com os dedos um tanto pisados. Pobre armadura brilhante! Está ficando embaciada. (Applauso.) Este é o seu credo. Tratados ? Só servem para embaraçar o movimento dos pés da Allemanha no seu avanço Cortem-se com a espada. Nações pequenas ! só servem para arrestar o avanço da Allemanha e por tanto esmaguem-se na lama sob o tacão Germânico. O Slavo Russo ? Desafia a supremacia da Allemanha e da Europa ? Arrojem-se legiões contra elle e massacrem-no. A Inglaterra ? Ameaça constante do predomínio mundial da Allemanha ? Arranquem-lhe o tridente da mão ! Christianismo ? Sentimentalismo enfermo, acerca do sacrificio por outros, alimento muito infantil para a digestão allemã. Precisa-se de novo regimen. Impol-o-hemos ao mundo. Será " made in Germany." (Hilariedade e applausos.) Regimen de sangue e ferro. O que resta ? Os tratados foram-se. A honra das nações foi-se. A liberdade foi-se. Que resta ? Allemanha ! Resta a Allemanha ! " Deutschland über Alles."
É isto o que estamos combatendo—(Ouçam, ouçam)—essa pretenção ao predominio de uma civilização dura e material, civilização que se um dia for lei no mundo, adeus liberdade, adeus democracia e ai da humanidade se Inglaterra e seus filhos não correm em seu auxilio. (Applauso.)
Teem accompanhado o Junker Prussiano e seus feitos ? Nós não estamos combatendo contra o povo Allemão. O povo Allemão acha-se debaixo do calcanhar desta casta militar e quando ella for despedaçada grande será o regozijo nesse dia para o componez, o artista e o negociante Allemão. Conhecem as suas pretenções. Imaginam que basta dizer "Temos pressa." Essa é a resposta dada a Belgica "A rapidez de movimentos constitue o activo mais importante da Allemanha " o que quer dizer" Arreda "que estou com pressa." As pequenas nacionalidades que se encontrem no caminho são arrojadas feridas e alquebradas para a beira da estrada. As mulheres e creaças são esmagadas sob as rodas do seu cruel carro e Inglaterra é intimada a sahir do caminho. Eu só digo isto, se o velho espirito Britanico ainda existe no coração Britanico, estou certo que aquelle conductor brutal será arrancado da almofada do carro. (Vivos applausos.) Se elle vencesse, seria a maior catastrophe que poderia acontecer á democracia.
Julgam que os não podemos bater. Não será fácil. Será demorado, será uma guerra terrivel mas por fim marcharemos do terror ao triumpho. (Applauso.) Necessitaremos de todas as nossas qualidades—todas as qualidades que Inglaterra e seu povo possuem—prudencia nas deliberações, audacia nos actos, tenacidade de proposito, coragem nos revezes, moderação na victoria e confiança em todas as cousas. (Vivos applausos.)
Deu-lhes para acreditar e apregoar a lenda de que somos um paiz decadente e degenerado. Apregoam ao mundo pelos seus professores que somos uma nação anti-heroica, que se esconde por detraz dos balcões de mogno é mette outras raças mais intrepidas a caminho da destruição. Eis como nos descrevem em Allemanha. " Uma nação timorata e cobarde que descança na sua esquadra." Creio que a estas horas já se vão desilludindo do seu engano—(Applauso)—havendo já meio milhão de jovens inglezes que registraram a sua promessa a seu rei de que atravessariam os mares e devolveriam esse insulto á coragem Britanica, aos seus perpretadores, nos campos de batalha da França e Allemanha. Precisamos de mais meio milhão e elle não nos ha de faltar. (Vivos applausos.)Invejo-vos a opportunidade, mancebos ! E uma grande opportunidade, uma opportunidade que só é dada ao homem uma vez em muitos seculos. Para a maior parte das gerações o sacrificio vem sempre em forma de uma monotonia e cansaço de espirito. Hoje chega-vos a vez e chega-nos a todos na forma do ardor e fremito de um grande movimento pela liberdade, que impelle milhões em toda a Europa para o mesmo fim. (Applauso.) É uma grande guerra para a emancipação da Europa do jugo de uma casta militar que lançou as suas sombras sobre duas gerações de homens e está mergulhando o mundo actual em um oceano de sangue e morte. Alguns já deram suas vidas. Alguns deram mais que suas vidas; deram as vidas dos que lhes eram caros. Honra á sua coragem e que Deus seja o seu conforto e resistencia. Mas a recompensa está a chegar, os que cahiram morreram consagrados. Tomaram parte na creação de uma nova Europa ou mesmo de um novo mundo.
Por entre os fogos do campo da batalha já vou vendo signaes da sua vinda.
O povo lucrará mais com esta lucta em todos os paizes do que actualmente pode comprehender. (Ouçam, ouçam.) É verdade que ficará livre da maior ameaça á sua liberdade, mas isto não é tudo. Ha alguma cousa infinitamente mais elevada e duradora que vem ja surgindo deste grande conflicto, um novo patriotismo, mais precioso, mais nobre e mais exaltado que o velho. (Applausos.) Diviso entre todas as classes, altas e baixas despojando-se de seu egoismo o reconhecimento de que a honra da patria não depende apenas do campo da batalha para a manutenção da sua gloria, mas também da protecção dos seus lares contra a miseria. (Ouçam, ouçam.) Uma nova perspectiva se vai apresentando a todas as classes. A grande onda de luxuria e indolencia que havia submergido o paiz está se retirando e uma nova terra vem apparecendo. Podemos ver pela primeira vez as cousas fundamentaes que importam na vida e que tem sido obscure cidas de nossa visão pela desenvolvimento tropical de prosperidade. (Ouçam, ouçam.)
Querem que lhes diga em forma de uma simples parabola o que eu entendo estar esta guerra fazendo por nós ?
Conheço um valle no paiz de Galles, entre as montanhas e o mar. É um formoso valle, aconchegado, confortavel, abrigado dos ventos penetrantes, pelas montanhas. É porem muito enervante e lembro-me que os rapazes tinham o costume de subir ao monte acima da aldeia para desfructarem da vista das grandes montanhas distantes e serem estimulados e envigorados pelas brizas que vinham do topo dos montes e pelo grande espectaculo da sua grandiosidade. Ha já algumas gerações que estamos vivendo em um valle sequestrado. Temos vivido com muito conforto e indulgencia, temos sido talvez egoistas em demasia e a severa mão do destino impelliu-nos a uma elevação onde podemos divisar as eternas cousas que valem em uma nação, os grandes pincaros das montanhas que haviamos olvidado, da honra, dever, patriotismo e revestido de deslumbrante tunica alva, o grande pinaculo do sacrifico apontando como que com um tosco dedo para o Ceu. Havemos de novamente regressar aos valles, mas emquanto os homens e mulheres desta geração durarem, levarão impressa em seus corações a imagem d'aquelles grandes pincaros das montanhas, cujas fundações são inabalaveis, embora a Europa trema e oscille com as convulsões de uma grande guerra. (Applausos enthusiastas e prolongados.)