Saltar para o conteúdo

A Luneta Mágica/II/XXXVII

Wikisource, a biblioteca livre


Vi o cupim.

O cupim não é sanguinário, mas a sua malvadeza não é menos prejudicial à sociedade.

A visão do mal patenteou-me segredos incríveis que li no seio recôndito desse inseto destruidor.

O cupim estraga, aniquila mais cabedais do que certos ministros da fazenda e de obras públicas que temos tido no império do Brasil: façam idéia de quanto ele estraga para vencer na comparação!

Conhecendo a faculdade destruidora do maldito inseto, os carpinteiros, os livreiros, os alfaiates e as modistas fizeram comércio de amizade, e pacto de aliança com o cupim, e todos reunidos representam e formam uma firma comercial sob a denominação de Cupim e Cia.

Em dois anos arruma-se uma casa, em dois meses fica em pó e renda uma biblioteca, em duas semanas torna-se sem serventia um guarda-roupa.

E note-se, o cupim é implacável, profundamente desprezado de todas as conveniências, e revoltoso ao ponto de não dar importância nem a um decreto referendado pelo ministro do império; em seu furor o cupim é capaz de não parar nas velhas calças brancas da corte, e de ir até roer as novas calças azuis dos nossos gentis-homens.

O cupim é portanto um inseto-monstro que deve ser posto fora da lei.