A loucura sob novo prisma/Introdução
Introdução
[editar]Levados pelo princípio, que julgam ser uma lei natural, de que toda a perturbação do estado fisiológico do ser humano procede invariavelmente de uma lesão orgânica, os homens da ciência têm, até hoje, como verdade incontroversa, que a alienação mental, conhecida pelo nome de loucura, é efeito de um estado patológico do cérebro, órgão do pensamento, para uns — glândula secretora do pensamento, para outros.
Nem os primeiros nem os segundos explicam sua maneira de compreender a ação do cérebro, quer em relação à função, em geral, quer em relação à sua perturbação, no caso da loucura.
Neste ligeiro trabalho, proponho-me, além de mais, a preencher essa lacuna, demonstrando, com fatos de rigorosa observação: 1º, que o pensamento é pura função da Alma ou Espírito, e, portanto, que suas perturbações, em tese, não dependem de lesão do cérebro, embora possam elas concorrer para o caso, pela razão de ser o cérebro instrumento das manifestações, dos produtos da faculdade pensante.
Efetivamente, mesmo quando a alma esteja no pleno exercício daquela faculdade, uma vez que o cérebro padeça de lesão orgânica que o torne instrumento incapaz da boa transmissão, dar-se-á o caso da loucura, como dar- se-á o da cegueira, quando o olho, instrumento da visão, sofrer lesão que tolha a passagem do raio luminoso.
Este caso de lesão cerebral explica a loucura, a que chamarei científica, porque é a conhecida pela Ciência, mas eu demonstrarei, 2º, que a loucura, perfeitamente caracterizada, pode-se dar — e dá-se mesmo, em larga escala, sem a mínima lesão cerebral, o que prova que o cérebro não é órgão do pensamento — e, menos que tudo, seu gerador ou secretor; e prova mais que, assim como o mau estado do instrumento de transmissão determina o que chamamos — alienação mental —, embora em perfeito estado se ache a fonte do pensamento, assim, por igual, o mau estado desta determina a alienação, embora esteja são o instrumento da transmissão.
Toda a questão se resume em provar-se fundamentalmente: que há loucos cujo cérebro não apresenta lesão orgânica de qualidade alguma.
Feito isto, fica perfeitamente claro que a loucura não é um caso patológico invariável em sua natureza, mas um fenômeno mórbido de duplo caráter: material e imaterial.
Quando é consequente da afecção do cérebro, que lhe perturba a transmissão, fazendo-a desordenadamente, tem o caráter material ou orgânico.
Quando resulta de algo que afeta a faculdade pensante, origem natural do pensamento, que, por isso, emana viciado da fonte, tem o caráter imaterial e fluídico, que demonstrarei; 3º, podendo ser, também, resultante da ação fluídica de Espíritos inimigos sobre a alma ou Espírito encarnado no corpo.
Em oposição à denominação de loucura científica, com que designei a que representa o primeiro caráter, designaria esta segunda espécie pela denominação de loucura por obsessão, isto é, por ação fluídica de influências estranhas, inteligentes.
Da primeira espécie, não me ocuparei senão acidentalmente, pois que nada poderei acrescentar aos trabalhos importantíssimos que a seu respeito têm produzido os maiores vultos da Medicina oficial, em todos os tempos e países.
Meu estudo limitar-se-á à segunda espécie, ainda não reconhecida nem estudada no mundo científico.
Sobre este importante assunto, cuja simples enunciação já deve ter feito muita gente atirar longe o pobre livro, eu farei meditado estudo, no empenho de tornar patente a causa do mal — a sintomatologia necessária ao diagnóstico, quer do mal (obsessão), quer da diferenciação entre as duas espécies de loucura — e, finalmente, os meios curativos da nova espécie ou obsessão.
Dividirei, pois, este livro em três partes.
Na 1ª, tratarei do pensamento em seu princípio causal e em suas manifestações.
Na 2ª, tratarei das relações do nosso espírito com os Espíritos livres do Espaço; donde a loucura por obsessão.
Na 3ª, direi sobre esta loucura, como caso patológico, determinando- lhe a causa — apreciando-lhe os sintomas — colhendo os elementos para seu diagnóstico diferencial — e prescrevendo os meios com que se deve tentar a cura do terrível mal.
Empreendendo tão grandioso trabalho, não me iludo com a presunção de que lhe posso dar feliz sucesso.
Ninguém conhece meu obscuro nome — e obras de tanta monta requerem nomes aureolados, e não de modesto médico, qual o sou. Tenho, entretanto, a presunção de poder assegurar a quem o ler, que, de par com a fraqueza intelectual na exibição e na apreciação dos fatos que servem de base ao meu pequeno edifício, encontrará a indobrez de caráter do homem que se preza — e que se aviltaria a seus próprios olhos se tentasse iludir com falsidades a quem o ler de boa-fé.
Os fatos citados, neste livro, são aí expostos com suas cores naturais, escrupulosamente conservadas — e só não se imporão à crença dos que deles tomarem conhecimento, porque o observador foi um ninguém.
Max