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A sciencia no lar moderno (1912)/A alimentação

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A alimentação


Chegamos á uma phase de economias, de transformações methodicas, de maior cuidado domestico que n'outro tempo não existia, a responsabilidade affecta a familia á justa direcção, de que depende a felicidade social, a educação, o exemplo. Exercendo os seus misteres, a productora da sociedade tem por fim velar pelo resultado de cada sêr, da sua educação, dos seus ascendentes e alimentação.

Entrando na vida econômica do individuo, a alimentação é como um factor. O trabalho intellectual carece, para manter em equilíbrio as forças physicas e moraes, de alimentação condusente aos elementos de sua cerebração e bem estar physico. O regimem alimentar é inteiramente diverso para o escriptor e para o homem do commercio. Da profissão vem a economia especial. Nisto influe a familia. Um literato, por exemplo, soffre forçosamente as consequencias da alimentação que lhes dérdes, si o privardes dos alimentos phosphatados, dando-lhe somente os calcareos e azotados, elemento que lhe serve de base na sua actividade intellectual.

Deve a esposa cuidar tanto da alimentação adquada ás funcções sociaes do esposo, como a propria e a de seus filhos.

Quem ha de, portanto, cuidar e comprehender essas necessidades? A' esposa compete essa missão.

Só a uma dona de casa, litterata é perdoavel não se envolver em cosinha, assim mesmo essas são as que mais se desvelam.

O paladar varia conforme o temperamento, e assim os gostos differenciam, conforme a educação e profissão de cada um. Assim também a cosinheira está sempre na espectativa se agradará ou não. Se é inteligente comprehende logo se está lidando com um negociante, ou com um pensador, homem fraco, exigente se é ignorante é preciso que a dona da casa a dirija. Geralmente o negociante é o homem das carnes sangüíneas, gorduras e vinhos generosos. O fraco, o litterato, já tem outros caprichos, o alimento para este é uma obrigação animal, deve-se apresentar muito variado e enfeitado para o não indispor. É preciso serem preparados de modo a lhe despertar o appetite, e muitas vezes é com sacrificio que toleram os alimentos que lhe não são adequados.

E ha desses homens que precisam de companhia á mesa, que partecipe com elles dessa intimidade da hora das refeições. Isto torna-se um problema a resolver para a dona da casa, conhecer os gostos do seu marido. Então o que torna-se indispensável é que ella inspeccione a sua cosinha, procurando pelos meios mais suaves determinar com auctoridade essa parte integral do seu lar.

Quem não sorri e não se encanta ao aspecto de uma modesta e tratada cosinha? É ahi que se vêem arranjadas e distribuidas as diversas peças e utensilios indispensáveis, a nova bateria em uso de louça esmaltada, um bom fogão pequeno, servido a gaz ou coke, tudo em harmonia, com as paredes limpas, claras, ou a metade em azulejo; isto convida a se estar alli demorado a conquistar a confecção de novas iguarias que tenhamos adquirido por leituras da arte culinaria.

Ainda sobre um assumpto que nos escapa, a collocação do fogão, o assentamento sempre se faz, e isto é notorio, contra a luz, ou num recanto, em logar difficil á necessária limpeza.

Outra condição indispensável para a boa cosinha é ter mesas de pedra mármore, separadas e junto á pia para lavagem de pratos, etc. Um armário alli ao lado, para guardar a louça, n'uma pequena copa, e outro armário de arame para se depositar carnes, ovos e tudo o que precisa de ventilação e fresco.

Sobre a bateria da cosinha preferimos a de louça esmaltada á moderna—limpa-se com facilidade, é saudável e como ornamento é o de uma luxuosa ou modesta cosinha, o mais chic.

Ainda que não seja tão leve como era necessário, mas, tal será, tão fraca a cosinheira que não supporte, a sua lide.

Ha outras qualidades de baterias, fino ornamento, a de nickel, por exemplo, é linda e é preciso um grande trato e com facilidade se estraga, porém é muito pesada. A de cobre é tão perigosa que um pouco de tempo que fique em deposito qualquer alimento para ser servido mais tarde, principalmente fora do fogo, é nociva a saúde e quando tenha sido composto com ácidos pode até produzir phenomenos de envenenamento e a morte.

O cobre é muito applicavel á confecção de doces, não se pode mesmo prescindir dessa qualidade de panella ou tacho, para certos doces. E quanto ao asseio, é preciso se usar de sal e acidos para o tratar e não deixar nenhum vestígio de azinhavre, que faz mal ao estomago. Por isso pensamos em instruir as leitoras sobre os inconvenientes e perigo que nos provém da cosinha dos alimentos deteriorados que muitas vezes recebemos pela cosinheira ignorante, como a carne em estado de decomposição, as farinhas mofadas, azedas, o arroz ardido, o peixe moido, vinagre falsificado. Emfim, ahi encontramos a causa de muitas molestias.

Mas, ha muitas senhoras que zelam assim das suas casas, tem um espirito atilado e investigador de tudo o que se passa ou se refere á cosinha.

Tenho em vista escrever este livro para as que vão começar sem pratica ou as que já estão em começo de lueta no seu lar doméstico, mostrando-lhe pela pratica a facilidade de se dirigirem. E, ao mesmo tempo, a educação fina exige que nos conservemos sempre asseiadas em nosso vestuário, o nosso cabello bem penteado, e um cuidado em extremo na casa porque, se ás vezes, por falta de tempo, a dona da casa não poude se preparar, ou pela falta de creados, está desgrenhada, desabotoada, de chinellos (o que raramente se vê), se entra uma nova creada e a vê neste desarranjo, já pensa que a senhora não é exigente, e com certeza fácil de contentar. E é este o juizo que ellas fazem a primeira vista.


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