A velhice do Padre Eterno/XXII

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A obra está completa. A machina flameja,
Desenrolando o fumo em ondas pelo ar.
Mas antes de partir mandem chamar a Egreja
Que é preciso que um bispo a venha baptizar.

Como ella é com certeza o fructo de Cain,
A filha da razão, da independencia humana,
Botem-lhe na fornalha uns trechos em latim,
E convertam-n'a á fé Catholica Romana.

Devem n'ella existir diabolicos peccados,
Porque é feita de cobre e ferro; e estes metaes
Sahem da natureza, impios, escommungados,
Como sahimos nós dos ventres maternaes!

Vamos, esconjurai-lhe o demo que ella encerra,
Extrahi a heresia ao aço lampejante!
Ella acaba de vir das forjas d'Inglaterra,
E hade ser com certeza um pouco protestante.

Para que o monstro corra em fervido galope,
Como um sonho febril, n'um doido turbilhão,
Além do machinista e necessario o hyssope,
E muita theologia... além d'algum carvão.

Atirem-lhe uma hostia á bocca famulenta,
Preguem-lhe alguns sermões, ensinem-n'a a resar,
E lancem na caldeira um jorro d'agua benta,
Que com agua do céo talvez não possa andar.