Alminhas do purgatório

Wikisource, a biblioteca livre

MOTE
Alminhas do purgatório,
Que estais na beira do rio,
Virai-vos da outra banda
Que vos dá o sol nas costas.


GLOSA


Atrás da Porta Otomana
Se conserva um bacamarte,
Com que Pedro Malasare
Defende a cúria romana.
Nas margens do Guadiana
Dá Castela o repertório:
Um tal frade frei Gregório
Nas ventas do seu nariz
Tem um letreiro que diz:
Alminhas do purgatório.

No passar do Helesponto,
Esta nossa atmosfera
O seu ambiente altera,
Por não achar barco pronto;
Em falsete ou contraponto
O tempo passa de estilo;
O mestre inverno com frio
Manda ascender o farol,
Pois vê de ré-mi-fá-sol
Que estais na beira do rio.

Depois do geral dilúvio,
Inda nos ficaram mágoas,
Porque no tempo das águas
Inunda mais o Danúbio.
Qualquer átomo ou eflúvio
Sempre fede que tresanda;
Renasce o mal de Luanda
Na cidade de Guiné;
Se quereis tomar café,
virai-vos da outra banda.

Raia agora a lua cheia,
A nova faz eu eclipse:
É galante parvoíce
Deitar-se a gente sem ceia.
Junto da Palma Iduméia
Estão as cousas dispostas
Para evitar as propostas
Em que estão sobre a vindima:
Ponde a barriga pra cima
Que vos dá o sol nas costas.