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As Doutoras/II/III

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Personagens: MARIA PRAXEDES e LUÍSA

LUÍSA (Entrando.) — Bom-dia, minha mãe!

MARIA — Há uma semana que não me apareces, Luísa, vim ver-te.

LUÍSA — Não tenho um minuto de que possa dispor!

MARIA — Quando se quer, minha filha...

LUÍSA — É que a mamãe não imagina, nem pode imaginar o que é a vida da médica. Estou visitando doentes desde as seis horas da manhã. (Puxando a lista.) E veja a via-sacra que tenho de percorrer ainda hoje.

MARIA — És na verdade muito feliz na tua clínica!

LUÍSA — Estou formada há um ano e quatro meses, posso dizer com orgulho que neste curto espaço de tempo tenho feito mais que todos os meus colegas juntos.

MARIA — Pena é, entretanto...

LUÍSA — Já sei a que vai se referir. Às lutas que se dão aqui nesta casa entre mim e meu marido. O que quer a senhora? Tenho eu porventura a culpa de que ele procure por todos os meios prejudicar os meus interesses, tomando doentes que são meus, exclusivamente meus?

MARIA — Mas minha filha, há porventura, meu e teu num casal que se estima?

LUÍSA — Há, sim senhora; quando esse meu e teu representa o esforço de cada um. Eu não sou uma mulher vulgar que veio colocar-se pelo fato do casamento sob a proteção de um homem. A minha posição no casal é igual, perfeitamente igual à de meu marido sob o ponto de vista do trabalho. Mas acima desse ponto de vista há ainda outra coisa que a senhora não quer compreender. Sabe qual é?

MARIA — Ignoro, minha filha!

LUÍSA — É a minha personalidade científica, a minha autonomia médica que meu marido tem tentado ofuscar; mas que eu hei de obrigá-lo a reconhecer, custe o que custar. Custe o que custar, ouviu minha mãe?

MARIA (Á parte.) — Meu Deus! (Alto.) Mas vocês então não se amam?

LUÍSA — Amamo-nos, minha mãe, amamo-nos. É preciso porém que cada um se conserve no seu posto; que as nossas posições se definam; ou por outra, é preciso que meu marido se convença de que eu posso ganhar perfeitamente a minha vida sozinha e de que ele não é mais inteligente do que eu! (Pondo a mão na cabeça e sentindo como que uma vertigem.)

MARIA — O que tens?

LUÍSA — Nada.

MARIA (Apalpando-lhe o pulso.) — Mas estás em suores frios.

LUÍSA — Estou-me sentindo um pouco enjoada... Mas já passou! Já passou!

MARIA — É fraqueza talvez, minha filha. Saíste de manhã tão cedo, sem comer nada.

LUÍSA — Tomei ovos quentes e uma xícara de café.

MARIA — Não é bastante. Vou ver se há lá dentro alguma coisa. (Vai a sair.)

LUÍSA — Não é preciso. Diga a Eulália que mande entrar os doentes lá embaixo. (Maria sai. Luísa tirando uma lista do bolso e um lápis.) Rua das Marrecas, já fui; Praça do Rocio Pequeno, Largo do Machado... (Senta-se à mesa, abre um livro e escreve assentamentos.)