As Vítimas-Algozes (1869)/III/LIV
Era tarde para a vingança.
Quando Liberato chegou ao portão do cortiço, saía por ele Dermany no meio de soldados que o levavam preso para ser entregue à legação francesa.
O jogador tinha perdido a partida.
Liberato conteve o seu fervor e nem reparou no vulto de uma mulher que, ao percebê-lo recuou, escondendo-se por entre os curiosos que em chusma observavam a cena.
Dermany, ouvindo o grito de Cândida e o ruído de sua carreira pela galeria não tardara também em correr no encalço da sua vítima; mas ao chegar ao portão hesitara, vendo os soldados, e logo fugira para o interior do cortiço, onde em breve fora descoberto e preso.
Lucinda acompanhara temerosa a diligência feita pela força pública, e seguira a esta, lamentando em voz baixa Dermany, até que, ao passar o portão e ao dar com os olhos no irmão de sua senhora, desviou-se e, envolvendo-se na multidão, foi desnorteada procurar abrigo, onde se acoutasse.
A Providência marcava por diversos modos a punição dos criminosos; mas de envolta com essas punições acendia uma luz que somente os cegos não vêem, a luz do infortúnio, da desmoralização, da miséria moral, que em vingança implacável a escravidão impõe à sociedade escravagista.
Os escravos são vítimas; mas sabem ser vítimas-algozes.
Lucinda, a mucama escrava, vítima porque era escrava, tinha sido algoz de sua senhora.
Que aproveite o exemplo.