As rosas (Machado de Assis, 1864)

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AS ROSAS.


A Caetano Filgueiras.


Rosas que desabrochaes,
Como os primeiros amores,
Aos suaves resplendores
        Matinaes;

Em vão ostentaes, em vão,
A vossa graça suprema;
De pouco vale; é o diadema
        Da illusão.


Em vão encheis de aroma o ar da tarde;
Em vão abris o seio humido e fresco
Do sol nascente aos beijos amorosos;
Em vão ornaes a fronte á meiga virgem;
Em vão, como penhor de puro affecto,
        Como um élo das almas,
Passaes do seio amante ao seio amante;
        Lá bate a hora infausta
Em que é força morrer; as folhas lindas
Perdem o viço da manhã primeira,
        As graças e o perfume.
Rosas que sois então? — Restos perdidos,
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha
Brisa do inverno ou mão indifferente.

        Tal é o vosso destino,
        Ó filhas da natureza;
        Em que vos peze á belleza,
                Pereceis;
        Mas, não... Se a mão de um poeta
        Vos cultiva agora, ó rosas,
        Mais vivas, mais jubilosas,
                Floresceis.