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Através do Brasil/LXXVII

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LXXVII. A POROROCA

Juvêncio esperava com ansiosa curiosidade o momento de entrar no grande rio. Gervásio explicava-lhe que não era bem no Amazonas que iam entrar desde logo, e sim no rio Pará; todavia, já era majestoso o espetáculo que se oferecia aos seus olhos; não parecia a entrada de um rio, mas uma vasta baía...

No meio da água agitada, fundeava a barca-farol. O navio avançava; deixava as águas verdes e cristalinas do mar, e penetrava nas ondas embaciadas do rio.

— Mas é verdadeiramente um mar! — exclamou Juvêncio.

— É! — disse Gervásio — de uma das margens não se vista a outra!

— Lá em frente, fica a ilha de Marajó, — disse um passageiro — do outro lado fica a verdadeira barra do Amazonas.

— Já entrei lá mais de uma vez; — disse o oficial do navio.

— Conhece então a pororoca?

— Oh! Sim!... Imagine que o Amazonas é um rio que tem mais de seiscentas léguas de comprimento. A quinhentas léguas acima da barra, já esse rio tem quase meia légua de largura; a cem léguas do mar, a sua largura é de três léguas, e a profundidade é de cento e vinte metros! Na embocadura há quarenta léguas!... Assim, a quantidade de água, que se despeja no mar, é portentosa. E, quando é a ocasião das grandes marés, as águas do mar avançam pela embocadura do rio colossal, encontram-se com a formidável massa de água que dele vem; e desse choque forma-se uma vaga tremenda, de mais de dez metros de altura, avançando numa corrida impetuosa a que nada resiste: vira as embarcações, despedaça árvores, destrói tudo... E atrás de uma vaga vem outra, outra... com um ruído que se ouve a duas léguas... É a pororoca!...