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Através do Brasil/XLII

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XLII. A DESPEDIDA

Cedo, Juvêncio acordou, com o ruído de uma conversa. Saltou da rede, para cair nos braços de Carlos e Alfredo, que já o esperavam ansiosos. Ao pé da rede, estava o dono da casa, ao lado de um pardo, bem moço ainda, de pele acaboclada, cabelos anelados, olhos risonhos.

— Está aqui o ladrão de cavalos! — disse sorrindo Bento Função, dizendo ao afilhado, e apontando Juvêncio.

Tomás — pois não era outro — sorriu também.

— Bem, — continuou o dono da casa, — você já sabe que não há aqui algum ladrão... Pobres crianças!... E vou fazê-los partir sem demora. De qualquer modo, é preciso que o coronel não saiba que o rapaz esteve aqui; é um homem birrento e rancoroso, e não quero histórias com ele. Você, Tomás, vá para onde está o seu companheiro, e diga-lhe que nada pôde saber; e finja fazer indagações para os lados do Joá, porque sigo com os rapazes para outro lado; vou com eles ao sítio do mano Tibúrcio, lá arranjo cavalo para os três, e hoje mesmo podem partir para Jaguarí. Amanhã deve haver trem; escreverei uma carta ao meu compadre Martinho, da padaria, e ele receberá os meninos. Pode mesmo arranjar passagem para os pobrezinhos; o meu compadre dá-se bem com os homens da estrada de ferro, e tem muito bom coração.

Foi uma despedida rápida. Alfredo abraçou com ternura a boa velha, que ainda lhe guardou nos bolsos dois ovos cozidos e umas pipocas de milho; abraçou e beijou com efusão a sua carinhosa enfermeira, Maria das Dores, que já não trazia na fisionomia a alegria de sempre. Os olhos, negros e puros, contemplavam tristes o menino, e iam de quando em quando procurar os olhos de Carlos, cujo rosto meigo e pesaroso tinha agora um tom de penetrante saudade. Juvêncio abraçou a todos; e Carlos, tendo beijado com amoroso respeito a mão da velha, caminhou para a rapariga, quieta e pálida, e abraçou-a silenciosamente. A boa velha viu então rolar uma lágrima nos olhos da filha...