Através do Brasil/XXXIII
XXXIII. A CLAREIRA
Vejamos o que acontecera a Juvêncio.
Tendo recebido os dez tostões, para levar a carta à vila de Riachinho, o rapaz pusera-se a caminho sem perda de tempo. Era uma hora da tarde, quando partiu; às seis devia estar na vila. Em caminho, parou um pouco, por volta das três horas, à procura de água com que matasse a sede. Não havia casas à vista: o lugar parecia inteiramente deserto. Mas, para um sertanejo como ele, isso não era motivo de desânimo.
Juvêncio observou com atenção o local. A estrada seguia por um meio declive, e fazia uma grande volta, rodeando um mato, que lhe ficava para o lado de baixo, à esquerda do rumo que levava o rapaz. Do outro lado erguiam-se dois morros pelados. E Juvêncio pensou: — “Se o caminho faz este rodeio é porque aí dentro da mata existe algum obstáculo, que o obriga a desviar-se, e esse obstáculo é, com certeza um rio, um córrego, que passa bem perto talvez”. Continuou a marcha, reparando bem para o lado esquerdo, e pouco depois descobriu uma batida que entrava para o mato; enveredou por ela, e, umas cinqüenta braças adiante, estava à beira de um ribeirão manso e profundo, de águas frescas e puras na sombra quieta do arvoredo. Era agradável o sítio, principalmente para quem vinha escaldando sob o sol das três horas da tarde; e Juvêncio, depois de fartar a sede e refrescar longamente as mãos, o rosto e os pés na água da corrente, acompanhou-a um pouco, entretido a ver as piabanhas que surgiam aqui e ali, à tona da água, e a mirar as raízes grossas e nodosas que, descendo a escarpa da ribanceira, iam até o fundo do ribeiro. Teria ele dado uns vinte passos, e deu com uma clareira, larga e limpa, cujo relvado o sol brumia e destacava no sombrio do bosque. Aí, o terreno descia suave para a corrente; as águas espraiavam-se, e via-se o fundo arenoso do córrego. Era um passo, era um ponto onde homens e animais podiam facilmente atravessar a corrente. Mas o rapaz não tinha folga para fazer maiores explorações, e não pensou em transpor a água; cortou a clareira no mesmo sentido em que vinha, e deu com um trilho que partia para cima, para fora do mato, mas numa direção quase oposta. Tomou por ele, calculando que iria dar na estrada real; e de fato, minutos depois, estava de novo no caminho, que reconheceu perfeitamente por ver os morros pelados para o lado de cima. Sucedeu com isto, apenas, que o rapaz veio sair uns trezentos metros adiante do ponto onde deixara o caminho, e atalhou assim uma boa distância.
Às seis da tarde, estava Juvêncio na vila do Riachinho, e não lhe foi difícil acertar com a casa do indivíduo a quem vinha destinada a carta. Era um negociante, juiz de paz da vila.