Através do Brasil/XXXV

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XXXV. LADRÃO!...

Refletindo que certamente sentiria fome durante a caminhada, Juvêncio foi comprar um pão. Mas, quando meteu a mão no bolso, não achou um só vintém: os cinco mil réis, que eram toda a sua fortuna, tinham desaparecido... Com certeza, tinham caído do bolso, durante a luta.

O rapaz, desanimado e quase chorando, afrouxou os dedos, e ia deixando o pão sobre a tábua do balcão da venda.

— Que é — perguntou o vendeiro — perdeu o seu cobre?

— Perdi...

— Bem! Leve o pão! Não há de agora passar fome, além do desgosto de ter perdido o seu dinheiro! Leve o pão, e traga o dinheiro amanhã.

Juvêncio agradeceu a bondade daquele homem, que nele confiava sem o conhecer, e aceitou o favor. Esteve ainda algum tempo, às apalpadelas, procurando o dinheiro no chão da praça, mas não o encontrou. Resignou-se, e pôs-se a caminho.

Seriam, mais ou menos, nove e meia da noite, quando, já no meio da estrada real, tendo andado cerca de uma légua, o rapaz sertanejo ouviu atrás um tropel de cavalos, cujos cascos soavam alto sobre as pedras do caminho; e, daí a pouco, foi alcançado por eles. Vinham dois homens montados; e, além dos cavalos que montavam, traziam mais dois, pelo arreata. Quando avistaram Juvêncio, saudaram-no, e perguntaram-lhe se tinha encontrado outros viajantes por ali.

— Não, — disse ele — não encontrei viva alma!

— E para onde vai a esta hora?

— Vou ali adiante, àquele sítio, onde está a venda do Lima.

— Ah! Também vamos para lá. Não quer montar um destes cavalos?

Juvêncio aceitou com grande prazer a proposta. Apanhou o cabresto de um dos animais, arranjou-lhe um barbichado, quebrou um galho de árvore para empregá-lo como chicote e de um salto equilibrou-se sobre o cavalo.

Caminharam algumas quinhentas braças sem novidade. Mas, na primeira encruzilhada, saíram-lhes ao encontro três indivíduos, também montados. Saltaram ao chão, e foram empunhando as garruchas que traziam a tiracolo.

Mas os dois meliantes deram logo de rédea para trás e desapareceram a galope, fugindo. Dois dos recém-chegados partiram a toda a brida, a perseguí-los: o outro atirou-se sobre Juvêncio, agarrou-o, e jogou-o ao chão. Depois, apeou-se, e agarrou fortemente os braços do rapaz, de modo a tolher-lhe todos os movimentos. Ao mesmo tempo, dirigia-lhe injúrias:

— Ah! Ladrão! Tão criança, e já ladrão! Tu não tiveste pai que te ensinasse o bom caminho, desgraçado?

O pobre Juvêncio, aturdido com a queda, apenas vagamente compreendia o que lhe acontecera... Via que caíra numa cilada: os dois sujeitos eram ladrões de cavalos; estavam com medo de ser apanhados, e queriam andar depressa: por isso, pediram-lhe que montasse um dos animais...

— Eu não sou ladrão! — gritou o rapaz.

Ao longe, ouviam-se tiros de garrucha...